Postado em: Reviews

Mortal Kombat (1995)

Blade, Cage e Kang.jpg

Mortal Kombat é um dos quatro representantes da época em que videogames ganharam adaptações para o cinema com estilos de excesso típicos das décadas de 1970, 1980 e 1990. Do período, surgiram este, Super Mario Bros., Double Dragon e Street Fighter. Todos péssimos filmes, com direito a gangues ou mundos secretos, brincadeiras fora de contexto, cenários enormes com grades, luzes de neon, computação que envelheceu mal e saídas de vapor de todos os cantos.

O filme segue a trama do  primeiro jogo, no qual um grupo dos melhores lutadores do mundo são reunidos pelo deus do trovão, Raiden (Christopher Lambert), para participarem do torneio Mortal Kombat. A batalha é pela própria Terra. Caso percam para os inimigos, um tirano de outra dimensão terá o direito para invadir o plano terreno.

Antes de falar sobre a obra cinematográfica por si só, é preciso falar sobre as origens do material original, o jogo eletrônico de 1992. O objetivo dos criadores era fazer um game de luta cujo protagonista seria o Jean-Claude Van Damme através de uma técnica que captaria os movimentos do ator para o videogame. O artista belga, porém, recusou a participação (ironicamente ele fez parte na adaptação para o cinema dos jogos concorrentes, Street Fighter). Um personagem foi criado em referência a ele, Johnny Cage (Linden Ashby). A trama era baseada em filmes de kung fu de baixo orçamento com tramas de demônios e inimigos sobrenaturais.

Eis onde se encontra o acerto acidental do fraquíssimo diretor Paul W. S. Anderson (creditado sem as iniciais extras porque o Paul Thomas Anderson ainda não era conhecido). Mortal Kombat, o jogo, brincava com conceitos trash para ser apenas um jogo de luta divertido e especialmente violento. Anderson, como em toda a carreira dele, achava que deveria fazer um filme sério. Incapaz de compreender o ridículo da trama costurada por Kevin Droney (do também péssimo filme de videogame, Wing Commander), fez um filme que não é consciente do quanto é ruim com grande orçamento e o melhor que havia de efeitos especiais na época. Como na maioria desses casos, o resultado é hilário.

abaixo de zero
“Sub-Zero. Sub-Zero. Escolhi o Sub-Zero”

Todos os heróis do filme têm um conflito principal. Liu Kang (Robin Shou) quer vingança pela morte do irmão mais novo, assassinado por Shang Tsung; Johnny Cage é um ator de artes marciais que busca provar que realmente é capaz das cenas que realiza e Sonya Blade (Bridgette Wilson) quer pegar Kano, o homem que matou seu parceiro. Nas buscas individuais, os três sentem antipatia imediata um pelo outro, mas ainda assim seguem juntos em cada encrenca inicial. Mesmo que Cage tenha feito mais amizade com outro cara,  o personagem só é visto junto aos outros dois que ele supostamente não gosta. A antipatia entre eles tem motivo, as provocações viram piadinhas irônicas entre eles numa tentativa pífia de cria empatia do público por eles.

Não ajuda ter no ator principal, Robin Shou, alguém ineficiente. Shou é um profissional e estava numa forma física invejável, mas ele parece apenas soltar as falas nos momentos certos ao invés de atuar. A Bridgette Wilson dá o melhor de si para criar a Sonya, mas ela é a única do grupo que obviamente não sabe fazer as coreografias e nem estava em boa forma física. Um corpo magro não é o mesmo que o corpo de uma lutadora. Felizmente ela possui apenas uma cena de luta para passar vergonha. Infelizmente ela está no filme apenas para ser uma mocinha em perigo no clímax, com direito a um espartilho de couro. Linden Ashby faz bem o Johnny Cage, mas não por destaque individual. Ele apenas é um ator minimamente bom que estava em boa forma e realmente fez as próprias cenas de ação.

Mas a caracterização não é apenas dos atores. Por algum motivo, Anderson achava adequado fazer as tomadas noturnas com luzes duras azuis. Em outros momentos coloca o mesmo estilo com cores verdes ou amarelas. Nenhum significa nada, é apenas repercussão dos estilos exagerados da época. Por algum motivo, os departamentos de direção de arte e de design de produção achavam que a melhor vestimenta para lutas são calças caqui com cinto – a única coisa que Kang e Cage usam durante todo o filme. Mas o pior é a estranha necessidade da produção de fazer com que todo mundo com cabelos compridos use mullet.

signo de novembro
“Come here!” Golpe especial do personagem era o melhor em efeitos especiais na época.

Passadas as apresentações mal escritas e mal interpretadas, começam as lutas. Cenas com personagens clássicos do game geram lutas rápidas, sem significado e cheias de efeitos especiais. Destaque para a já famosa épica descida de escadas do Sub-Zero, o soco no saco de Goro e o gancho digital que envelheceu mal do Scorpion no que, talvez, seja a melhor cena do filme.

Podia até ser parte do objetivo de Anderson fazer uma obra com características obviamente toscas como o material original fazia. Se for o caso, parabéns para ele. Em consideração ao resto da carreira dele, é fácil acreditar que o diretor realmente acreditava que realizava um filme sério e de qualidade. Felizmente, para o público, ou ele acertou em cheio, ou errou miseravelmente. O resultado continua o mesmo. Um desses ótimos filmes para assistir com amigos enquanto dá gargalhada. Ainda ganham algumas poucas boas e surpreendentes cenas de ação no meio do caminho.

 

FANTASTIC…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.