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Mentes Sombrias (The Darkest Minds – 2018)

Este Mentes Sombrias forneceu uma situação inusitada e rara no cinema. Há quem diga que só é preciso cerca de cinco minutos para compreender a capacidade de um diretor com um filme. Foi preciso um pouco mais para que a diretora Jennifer Yuh Nelson, deste filme, revelasse a verdadeira qualidade do resto dos 104 minutos da produção.

Depois que uma doença mata 90% dos menores de idade dos Estados Unidos, os sobreviventes começam a apresentar habilidades em comum que aparecem divididas em cinco categorias de perigo. Uma dessas é Ruby (Amandla Stenberg), que está em um nível de poder que exige extermínio imediato por parte das autoridades. Depois de seis anos escondida em um complexo do governo, ela é descoberta e foge com a ajuda de uma revolucionária de um grupo conhecido apenas como a Liga.

Enquanto escapa com eles, Ruby descobre que alguns não são confiáveis e se mete em uma van com um grupo de adolescentes que foge através de um Estados Unidos devastado. No mesmo momento, eles são perseguidos por uma caçadora de recompensa conhecida apenas como Lady Jane (Gwendoline Christie). Assim, Ruby descobre uma possibilidade de vida idílica em um lugar chamado Edo onde crianças vivem em paz.

Ruby com o novo grupo conveniente de amigos fugitivos.

Muitas coisas estão mal explicadas na sinopse de Mentes Sombrias, e isso ocorre porque elas não fazem sentido no filme. Com pretensões de se tornar uma nova franquia de distopia adolescente a la Jogos Vorazes, essa produção é, talvez, a pior do subgênero. E isso quando se leva em consideração coisas como Divergente.

É impressionante como o roteiro de Chad Hodge, inspirado no livro homônimo de Alexandra Bracken não tem uma cena de contexto bem construído ou sequer um diálogo que não soe clichê e desconexo do resto da narrativa. Desde o primeiro ato aceleradíssimo em que um absurdo de coincidências se encaixam para que Ruby convenientemente esteja em um carro com um grupo eclético e um possível namorado perfeito, até detalhes menores, como um vestido vermelho que surge de lugar nenhum para descambar em uma cena vergonhosa.

Além, é claro, dos inúmeros furos de roteiro e situações sem explicações. Ruby sobe na van dos meninos fugitivos e, porque eles dizem que a tal Liga é maligna, ela viaja com eles. Ninguém fala quais as maldades e motivações e o filme espera que o espectador simplesmente aceite.

Brilho nos olhos de Ruby indicam o nível de perigo dela.

E a direção de Yuh Nelson não ajuda. Ela faz pequenas escolhas de direção de arte que fazem com que o filme passe do suspense para o absurdo. Uma das piores é um pequeno brilho que surge nos olhos dos adolescentes com poderes quando usam as habilidades. É um efeito técnico maravilhoso que remete ao clássico cult Blade Runner, mas fica desperdiçado quando a iluminação de cada um corresponde à cor do nível de alerta de periculosidade deles.

Então os mais “fracos”, que são os inteligentes, recebem um brilho verde ao pensarem em algo inteligente. Como se inteligência fosse uma habilidade que pudesse ser ativada ou desativada ao bel prazer. Pior ainda é a escala usada. Quando se descobre quais os poderes de todas as cores, percebe-se que os azuis e os amarelos podem ser muito mais perigosos que os vermelhos.

Assim, com cerca de vinte minutos de projeção de Mente Sombrias, ocorreu um dos meus maiores medos: percebi que teria que ver mais de uma hora desse filme. Pesquisas indicam que perturbações psicológicas podem ser tão incômodas quanto dores físicas. Não é surpresa que, depois da projeção, colegas críticos compartilharam a sensação de mal estar por ter passado pela experiência. Se houvesse a opção de sair do cinema, mesmo depois de pagar, todos afirmaram que teriam aproveitado a chance.

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