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Janela Indiscreta

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Uma das partes mais tristes de assistir os filmes do Hitchcock é ver produções em que o James Stewart já estava envelhecendo. Em Janela Indiscreta ele já estava próximo dos seus cinquenta anos e a idade fica bem aparente na produção. Felizmente, isso não prejudica nem o filme, nem sua interpretação.

Jeff, fotógrafo jornalístico, quebra a perna ao capturar uma imagem impressionante de um acidente de corrida. O machucado foi tão feio que ele precisa ficar sete semanas em repouso. Entediado com o aprisionamento domiciliar, ele começa a se entreter com a rotina dos vizinhos, que assiste através da janela do apartamento. Até que percebe um mistério perturbador em uma casa ao lado.

O questionamento é interessante. Jeff não possui nenhuma prova de que o vizinho matou a esposa, apenas o comportamento suspeito dele. Fica então a dúvida, qual o comportamento ético no caso? Não se intrometer na vida privada dos outros ou deixar de investigar o possível homicídio de uma mulher.

O diretor segue seu estilo padrão. Começa o filme lento e vai acelerando à medida em que o suspense se desenvolve. Ao final, estamos nervosos e temendo pela vida dos protagonistas. Assim como na sessão de O Homem que Sabia Demais, também com o Stewart, as pessoas vibravam e soltavam suspiros exasperados no clímax de Janela Indiscreta.

É o resultado de um grande diretor que sabe controlar suas cenas e o ritmo de seus filmes. Impressionante como a cena final, do confronto no apartamento é tensa. Com direito a uma solução envolvendo uma janela que só pode ser descrita como incrível, apesar de sua realização estar datada.

Por baixo do espetáculo, o diretor rechonchudo coloca uma analogia interessante sobre o cinema. Jeff deixa de viver a vida para acompanhar a dos outros através da moldura de suas janelas. Analogia ainda válida para os tempos de hoje. Afinal de contas, quando temos tempo livre, o que fazemos se não assistir TV e seguir a vida mais interessante que o aparelho nos revela.

Jeff tem um relacionamento com uma mulher da alta sociedade de Nova Iorque. Mas eles não seguem adiante porque ele não acredita no futuro dos dois. Ela não está preparada para viajar pelo mundo com ele se metendo em perigos para tirar suas perigosas fotos. Ele não está preparado para se envolver com a alta classe da região da Park Avenue. Mas fica bem claro que se amam e que estão dispostos a se casar.

Ele não muda nunca. Suas roupas possuem sempre tons claros. Ela, por outro lado, se envolve com o mistério do vizinho e vai se arriscando cada vez mais. Mais até que o destemido fotógrafo. Com isso, as cores na roupa dela vão mudando. Ela começa com uma elegante mistura de preto e branco. Quanto mais se envolve com as investigações, mais suas roupas vão ficando claras e se encaixando no padrão dele. Ao final, a roupa dela reflete o estado em que o relacionamento alcançou após todo o clímax.

Stewart e Kelly. A rainha da elegância vai mergulhando na obsessão dele.
Stewart e Kelly. A rainha da elegância vai mergulhando na obsessão dele.

O relacionamento é refletido também nas pessoas que vivem atrás das janelas vizinhas. Cada casa observada possui pessoas com algum nível diferente de relacionamento. Existe o casal mais velho e ainda unido. O pianista solitário. A vizinha solteirona. Os recém-casados que não conseguem sair da cama. Uma garota extremamente bonita que troca de homens assim como troca de roupas. Todos são analogias para o próprio relacionamento de Jeff.

Destaque para a trilha sonora. Ela é quase toda diegética, vinda do apartamento do vizinho pianista.

Outro destaque para a Grace Kelly. Linda de morrer como a mulher rica, sofisticada e elegante. Completamente diferente da traidora sonsa de Disque M para Matar. Assistindo esse filme não é difícil acreditar que ela eventualmente se tornaria a princesa de Mônaco.

 

ALLONS-YYYYYYY…

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