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Homem-Aranha 2

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Não escondo de ninguém. Adoro Homem-Aranha 2. Para mim ele é facilmente um dos melhores filmes já feito. Então preciso admitir que não serei capaz de fazer uma crítica completamente objetiva do filme. Por outro lado, por mais que eu ame o personagem, ainda acho O Espetacular Homem-Aranha a grande decepção do ano passado.

Existe uma regra que o Alfred Hitchcock criou para si mesmo que era bastante importante para a qualidade de seus filmes. A realidade que ele filma é a do filme, não a da vida real. Sam Raimi parece ser um adepto fiel dessa regra. Ele inventou diversos estilos de filmagem para o seu A Morte do Demônio, fez um Darkman com o estilo de histórias em quadrinhos, um western feminista e uma Nova Iorque de fantasia para o Homem-Aranha.
Nessa cidade fantástica, um homem vestindo colant vermelho e azul não parece fora de lugar. Assim como um cientista que teve seu cérebro tomado por sua criação e vira um monstro. É por isso que o Homem-Aranha de Raimi funciona tão bem.
Peter Parker tem que lidar com as dificuldades de pagar o aluguel, ver sua tia viúva ser expulsa da casa onde sempre viveu, está para reprovar na faculdade, o melhor amigo o quer morto e a mulher que ama está envolvida com outra pessoa. Além, é claro, de ter que sacrificar as possibilidades de resolver todos esses problemas para poder salvar as pessoas como Homem-Aranha.

Ela tem no contrato pelo menos uma cena com farol aceso por filme.
Ela tinha no contrato pelo menos uma cena com farol aceso por filme.

As más notícias chegam ao seu ápice quando é obrigado a tirar fotos do novo namorado de Mary Jane a pedindo em namoro. Na sessão em que assisti ao filme, ouvi uma pessoa atrás de mim falando “Se mata, cara” neste momento. Tragédia é a palavra para descrever a vida do cabeça de teia. É justo que na próxima cena ele perca seus poderes por conta de estresse.
Junto com isso, vem a opção de deixar de ser o Homem-Aranha e tomar o controle de sua vida. É a continuidade da discussão levantada com o conceito principal ao redor do super-herói. Grandes poderes trazem grandes responsabilidades.
No primeiro filme o poder foi imposto a Peter, no segundo, ele tem a opção de aceitar esse poder. Ser o Homem-Aranha impede o jovem de estudar, namorar, resolver as coisas com o amigo, manter um emprego e ajudar a tia. Não ser o Homem-Aranha o obriga a lidar com a culpa de não poder ajudar um homem espancado durante um assalto, não poder salvar uma mulher de um incêndio.
Raimi coloca humor o tempo inteiro. Apesar das desgraças na vida de Parker, cada má notícia acontece através de piadas. Chegando atrasado para a aula, ele derruba seu material e quando se abaixa para pegá-lo, todo mundo passa esbarrando suas coisas na cabeça de Peter. Na festa onde descobre que Mary Jane ficou noiva, não consegue pegar um aperitivo ou bebida através de piadas com copos vazios e últimos pedaços de comidinha.
São pitadas de humor pastelão que compõem o universo de fantasia do filme. Além disso, o Homem-Aranha demonstra ser mais piadista nos momentos de ação. É o personagem voltando às piadinhas da HQ. Quando o Doutor Octopus joga sacos de dinheiro nele, ele joga um de volta gritando “Here’s your change.” Quando seus poderes falham pela primeira vez, ele divide o elevador com um homem e aproveitando da situação incomum, se abre sobre como o quanto a roupa é desconfortável.
O estilo de Raimi é quase imperceptível na construção da trama. Vai bem comum, até que começam as cenas de ação ou as brincadeiras com câmera. Nos momentos mais comuns, deixa que ações digam o que acontece. Mary Jane faz um último teste antes de contar a nova relação. Ao invés de dizer, fica tudo expresso em sua frustração e nos silêncios entre a Kirsten Dunst e o Tobey Maguire.
É o que acontece quando se tem um roteiro bem escrito adaptado por uma direção eficiente.
Para criar o Octopus, Raimi transforma o Alfred Molina não apenas em um monstro, mas em um monstro de um de seus filmes de terror. Quando o vilão se levanta como aberração pela primeira vez, seus braços mecânicos atacam um grupo de médicos como os galhos de A Morte do Demônio.
Dentre as melhores cenas de ação já feitas.
Cena de ação que entrou para a história.

Ele coloca o Alfred Molina e o Tobey Maguire na ação com uma montagem esperta que transita entre a computação gráfica pura e os dois atores aparecendo no enquadramento. O resultado é uma das melhores cenas de ação já feitas com o protagonista e o vilão brigando em cima de um trem do metrô.
Sempre que acaba uma cena de heroísmo, fica aquela sensação de que o personagem é incrível. Em certo ponto tia May fala sobre a importância do Homem-Aranha. Ele é o exemplo que faz com que as pessoas queiram ser mais fortes e aguentarem mais as suas dificuldades. Quando Peter é descoberto por uma parcela de cidadãos, eles o protegem e prometem nunca revelar sua identidade.
Por sinal, Homem-Aranha 2 é repleto de cenas memoráveis, como quando Peter abandona o uniforme em uma lixeira, ou quando ele deixa a Mary Jane esperando depois de ela dizer as clássicas palavras “Vá pegá-los, tigrão!”
Ainda lembro das pessoas gritando na sala de cinema depois dessa fala.
Ainda lembro das pessoas gritando na sala de cinema depois disso.

O Tobey Maguire sustenta metade das cenas e parece estar dormindo na outra metade. A Kristen Dunst faz uma Mary Jane mais dócil e meiga que nas origens. O Alfred Molina interpreta uma das melhores adaptações de um personagem de HQ para os cinemas. O James Franco está completamente tresloucado em sua busca por vingança.
Infelizmente, o clima não realista também causa estranhamento em alguns momentos. Alguns atores reagem em cenas de forma bizarra, como na montagem em que Peter está retomando a vida. Numa aula, um professor faz uma pergunta e ele responde. A piada do momento obriga a edição a manter Maguire em cena sem que nada esteja acontecendo. Parece fora de lugar.
Os atores principais sustentam a interpretação através disso muito bem. São os figurantes que sofrem de verdade. Eles não acertam o passo das tomadas e não conseguem acompanhar. O filme sofre com isso.
Ajuda muito ter um vencedor de Pulitzer no roteiro e um dos grande diretores atuais. O roteiro é equilibrado, nada acontece fora de lugar ou de forma errada. Tudo tem sua função e constrói para levar a proposta do filme adiante.
Como já foi dito, essa não é a visão mais objetiva. Homem-Aranha é parte da minha infância e vê-lo brilhando em seu auge mexe comigo. Revejam e tirem suas próprias conclusões.
 
ALONS-YYYYYYYYY…

2 comentários em “Homem-Aranha 2

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