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Heróis de Ressaca

The-Worlds-End
Um dos grandes problemas de distribuição de cinema no Brasil é que os títulos de filmes tendem a ser ruins para quase todas as produções. Se um espectador desinformado ver o nome brasileiro de Heróis de Ressaca, vai achar que é apenas mais uma comédia sobre pessoas enchendo a cara e se divertindo. Este pobre espectador estará perdendo um dos filmes da célebre trilogia dos três sabores de Cornetto.

Gary (Pegg), Andy (Frost), Peter, Steven e Oliver (Freeman) são cinco amigos na casa dos quarenta anos de idade que se reúnem para resolver um assunto pendente. Quando adolescentes tentaram fazer um percurso chamado a Milha Dourada, doze bares através de ruas somando uma milha em uma cidade de interior onde eles cresceram. A irmã de Oliver, Sam (Pike), aproveita a oportunidade para reencontrar amigas de infância. No meio da jornada descobrem que a cidade virou base de uma invasão alienígena.
Heróis de Ressaca é o terceiro filme da trilogia e, tal qual os dois filmes anteriores, faz comédia em cima de um gênero bem estabelecido. O primeiro, Todo Mundo Quase Morto, brincava de filme de zumbi. O segundo, Chumbo Grosso, de policial. Este o faz com filmes de ficção-científica típicos da década de 1950. Também seguindo o padrão da trilogia, a mistura de gêneros reflete sobre amadurecimento e como o padrão social não é realmente o único caminho correto na vida.

the-worlds-end-2Referências a conceitos cinquentistas de ficção-científica.

O roteiro do protagonista Simon Pegg e do diretor Edgar Wright se aproxima mais do primeiro filme da trilogia. Os contextos absurdos que o gênero satirizado apresenta servem de fontes para piadas em que os protagonistas comentam as loucuras que ocorrem ao seu redor. Eles falam exatamente o que o espectador está pensando. À medida em que a trama desenvolve, os personagens se envolvem mais com a fantasia e se tornam aos poucos os típicos representantes do estilo satirizado. Um vira protagonista, outro vira o coadjuvante cômico, um terceiro vira uma espécie de antagonista e por aí vai. Funciona muito bem, mas também causa um estranhamento. Em certas partes, o filme parece mais interessado em ser uma referência ao resto da trilogia que em seguir um conceito próprio.
O Edgar Wright é um diretor de estilo único e poderoso. Ele filma múltiplos planos e os picota para detalhar praticamente tudo, seja o grupo apenas se cumprimentando, preparando os copos de cerveja, bebendo ou até em perseguições de carro ou a pé. Quando chega em cenas de violência mais movimentadas ele faz planos mais longos e elaborados. A fotografia do experiente Bill Pope é bela e faz referências a diversos momentos e clichês de filmes de invasão alienígena. Quando o louco da cidade expõe as regras do mundo, usa de cores duras azuis e vermelhas. Quando estão nos bares em que a trama alienígena se desenvolve, tudo fica no limite das sombras. Antes, quando é apenas sobre bêbados andando pela rua, ele usa de luzes brancas e duras, mas com a sutileza de deixar um personagem mais revoltado com a situação um pouco mais afastado e com menos incidência de luz.

the-worlds-end-image01Rosamund Pike em meio à violência estilizada de Wright.

Todos os atores se entregam à brincadeira. Os dois protagonistas, Simon Pegg e Nick Frost, já dominaram a linguagem de Wright e acompanham o ritmo dele com maestria. Mesmo com personagens que são completos opostos. O Martin Freeman é, talvez, o menos importante do grupo e eventualmente se resume a uma grande piada acerca de sua própria personalidade, e ele parece se divertir muito com isso. A Rosamund Pike é muito eclética. Ela já foi a mocinha em perigo, a psicopata maligna e aqui é uma mulher capaz de se cuidar sozinha em meio à violência. O elenco que compõe o grupo principal de amigos se diverte com a brincadeira de interpretarem bêbados que tentam compreender um mundo de invasão alienígena ao seu redor. É, sob muitos aspectos, a piada principal do filme. Cinco homens fora de si incapazes de compreender o perigo de escala enorme ao seu redor.
Heróis de Ressaca é um fechamento adequado para a trilogia. Sofre com o fato de ser o terceiro e muitas das coisas originais dos outros já estarem gastas, mas ainda é uma obra inteligente em sua concepção e em sua capacidade de divertir. Infelizmente, como no resto da trilogia, ele foi lançado diretamente em home video no Brasil.
 
GERÔNIMOOOOOOO…

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