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Freaky – No Corpo de um Assassino (2020)

O nome Christopher Landon, diretor deste Freaky, começou a chamar atenção de 2015 para 2017, quando ele lançou dois filmes de “terrir”. Em misturas inteligentes de subgêneros de comédia com subgêneros de horror, fez o mediano Como Sobreviver a um Ataque Zumbi e o ótimo A Morte Te Dá Parabéns. Depois de ser reconhecido especialmente pelo segundo, chegou a hora de mostrar a que veio com algo novo.

Para isso, conta em Freaky a história de Millie (Kathryn Newton). Adolescente vítima de bullying e em crise familiar, ela é esfaqueada pelo assassino serial Carniceiro (Vince Vaughn). Porém, ele usou uma faca cerimonial asteca que, ao invés de matar a garota, troca as consciências dos dois. Ela, agora, está presa no corpo do algoz e tem 24 horas para inverter o processo, ou ficará lá para sempre.

É possível imaginar o raciocínio de Landon para chegar a este Freaky. Depois de ser mal recebido por Atividade Paranormal: Marcados Pelo Mal, ele percebeu que talvez não fosse o melhor diretor de terror. Então, abraçou o que os piores filmes do gênero têm de melhor, a comédia involuntária, mas mistura estilos de comédia com apocalipses zumbis ou com slashers.

Pastelão torna defeitos aceitáveis

Não é preciso pensar muito para encontrar a grande sacada da vez de Landon. Ele até assume no título uma referência à comédia clássica com a Jodie Foster, Se Eu Fosse a Minha Mãe, Freaky Friday em inglês (que depois ganharia o remake Sexta-Feira Muito Louca, com a Lindsay Lohan). É o estilo de comédia de troca de corpos que ele mistura mais uma vez com slasher, subgênero de horror usado em A Morte Te Dá Parabéns.

A mistura faz muita diferença porque Landon, como diretor de terror, não é muito bom. Ele gosta dos sustos mais fáceis e de cenas de matanças tão absurdas que parecem mais coisas dos desenhos do Pernalonga. É proposital, porque antes mesmo de Freaky ter momentos de comédia, já faz rir. O que seria um defeito em um horror, vira virtude em humor.

Bastidores de gravação

Ao seguir o caminho do pastelão, Freaky também consegue deixar passar alguns problemas maiores, como não explicar que os personagens vão de um lugar para outro por meio de multidões sem serem vistos. Isso quando Millie está em um rosto reconhecido e procurado pelas autoridades. Em certo ponto, ela consegue invadir uma festa lotada sem ser vista.

Outros defeitos, porém, não passam batidos. Em Freaky, Landon também é roteirista, e ele não é muito bom em ritmo de narrativas. Entre as muitas boas sacadas do filme, ele se perde ao tentar construir suspense, especialmente quando o Carniceiro passa a matar no corpo de Millie. Por ser uma garota pequena e magra, ele é mais fraco que as vítimas, e não há sensação de perigo.

O grande trunfo de Freaky

O grande trunfo de Freaky é o ator Vince Vaughn. Antes de ser um comediante renomado, ele fez todo tipo de papel mais “sério”. Desde o Norman Bates no remake de Psicose, até personagem de ação em Jurassic Park: O Mundo Perdido. Então ele transita com facilidade entre o psicopata e a adolescente vulnerável e inteligente.

Principalmente agora, com 50 anos e em um corpo mais troncudo nos altos de 1,96 metro de altura, Vaughn parece mais intimidador que nunca em Freaky. Ao agir com naturalidade como uma adolescente neste corpanzil, ele é hilário sem esforço. No melhor estilo de comédia: sem exageros. Já é possível gargalhar na primeira cena dele como Millie, quando o ator apenas se espreguiça. Assim, o tom de humor diverte até o fim.

Principalmente agora, com 50 anos e em um corpo mais troncudo nos altos de 1,96 metro de altura, Vaughn parece mais intimidador que nunca em Freaky.

No meio do caminho, Landon surpreende ao focar em temas importantes. Principalmente porque tanto Millie quanto o Carniceiro agora estão em corpos de gêneros biológicos diferentes. Os personagens coadjuvantes fazem questão de respeitar os dois pelo que são. Desde o namoradinho de Millie, que gosta dela mesmo no rosto de Vaughn, até uma amiga que corrige alguém quando os chama por artigos e pronomes errados.

Até mesmo na jornada de Millie, ela aprende sobre empoderamento, depois de acostumada a ser alvo de bullyin ao viver em um corpo forte. E, também, por ver como o assassino usa a imagem dela para se destacar, como ela nunca conseguiu fazer.

Entre as sacadas inteligentes típicas de Landon e os muitos erros de narrativa, Freaky se sustenta como entretenimento rápido. Ganha pontos pela forma sutil como trata questões de gênero. Mas perde outros pelo roteiro com falhas de lógica.

Freaky – No Corpo de um Assassino

Prós

  • Comédia natural e sem exageros
  • Vince Vaughn

Contras

  • O terror nunca funciona
  • Problemas de lógica e de coerência na história

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