Duas coisas precisam ser ditas sobre a série Gotham antes de mais nada. Primeiro, como na maioria das séries de TV, que se trata de um péssimo valor de produção. E segundo que eu sei que gosto de um material mais que questionável. Ainda assim, estou terrivelmente viciado nessa bela porcaria.

Jim Gordon (McKenzie) consegue o cargo de detetive de homicídio no Departamento de Polícia de Gotham City. Seu primeiro caso é o assassinato de um casal de milionários durante um assalto. Porém, Gordon não sabe que a morte de Jonathan e Martha Wayne era apenas o primeiro passo de uma grande conspiração envolvendo as duas famílias mafiosas que controlam a cidade, as maiores empresas locais, os políticos e a reforma do antigo asilo Arkham. Para resolver o caso, Gordon vai precisar da ajuda do órfão das vítimas, Bruce Wayne (Mazouz) e seu mordomo Alfred Pennyworth (Pertwee), da única testemunha, uma menina chamada Selina Kyle (Bicondova) e de seu dúbio parceiro, Harvey Bullock (Logue).

Gotham_GTH101_2500_1280x720_332174403806Gordon e seu parceiro Bullock. Estilo noir e corrupção.

A ideia da série é retratar como era essa cidade antes do começo da franquia Batman. Mais especificamente, de como foi a jornada do jovem James Gordon antes de virar o comissário colega do super-herói. Ou seja, é sobre um homem totalmente honesto e bom em meio a uma cidade feita de corrupção. O problema é justamente que se trata do universo do Batman.
A mitologia deste universo tem um centro interessante, com questionamentos sobre sanidade, vigilantismo, justiça e criminalidade, mas como todos os universos de super-heróis, se desenvolveu numa loucura mirabolante de vilões coloridos e pseudocientíficos que caem constantemente no ridículo. Tem uma mulher que controla plantas, um psicopata que caiu no ácido e perdeu toda a melanina do corpo, um homem-crocodilo, outro homem-argila. E a série se permite, com frequência, cair nesse espaço ridículo da franquia.
Para começar, as primeiras aventuras de Gordon na polícia envolvem o Bruce Wayne (que se tornará o Batman mais tarde), a Selina Kyle (que será a Mulher Gato), o Edward Nygma (Charada), Oswald Cobblepot (Pinguim), Pamela Ivey (Hera Venenosa), a origem do químico venom (que transformará alguém no Bane) e até o Victor Zsasz (que é um inimigo menor do Batman). Considerando que o Bruce Wayne tem 13 anos na série, é de se imaginar que ele só virará o Batman em uns dez ou quinze anos. Ou seja, o James Gordon, que um dia será um dos maiores aliados do herói, já conhece grande parte dos “supervilões” que o Batman enfrentará. E grande parte deles apresentados de forma ridícula. Nygma é um técnico forense com tendências psicóticas, todas interpretadas com exagero por seu péssimo ator. Selina é uma menina de 15 anos que já é cheia de referências ao estilo da Mulher Gato da Anne Hathaway. Cobblepot é um poço de afetamento, reviravoltas ilógicas e crimes exagerados.

gotham1eGaleria de vilões estapafúrdios. Dignos do universo do Batman.

Como se isso não fosse bastante, o mundo da máfia da série segue a tendência. Os chefes Maroni e Falcone são estereótipos de gangsters italianos, o primeiro cheio de caretas para representar, o segundo é até bom. Mas a grande vilã da série é a personagem Fish Mooney, que pretende passar a perna em todo mundo no meio da conspiração gigante. Ela é interpretada pela Jada Pinkett Smith, esposa do Will Smith, com todo o exagero e megalomania dos outros. E a direção de arte mistura estilo gótico, que normalmente está associado ao universo do morcegão, com estilo noir. Gordon e Bullock investigam assassinatos de terno e chapéus de detetives da década de 1930.
É tudo uma grande construção exacerbada, megalômana e fora de contexto que não condiz com a ideia base da série. Um policial honesto dentro de um sistema corrupto. Porém, o baixo valor de produção comum das séries da CW, que contam com péssimos efeitos, direções padronizadas (com câmeras baixas, lentes abertas e nenhuma personalidade) e fotografia expressionista, conversam muito bem com o estilo. O que faz com que a parte negativa da série ganhe um acidental estilo divertido e exagerado.
Quando o foco é Gordon e Bullock investigando crimes e enfrentando obstáculos que surgem por causa da corrupção é que a série brilha. Principalmente quando tem um bom roteiro. De vez em quando os roteiros são péssimos e pioram o clima exagerado. Ainda assim, quando os assassinatos são interessantes, Gotham é ótima. Quando o desenvolvimento do mistério principal funciona, ele o faz muito bem. Cria muita curiosidade acerca de como a morte dos Wayne, a máfia e a prefeitura estão relacionados com a reestruturação do asilo Arkham.
Ben McKenzie é um péssimo ator e faz um desfavor ao personagem interessante que é o James Gordon. O Donal Logue é um grande comediante fadado a personagens caricatos e coadjuvantes, mas faz um bom trabalho com a dualidade de Bullock. Até o Sean Pertwee, que é um ótimo ator que só faz papéis ruins, está fraco como o Alfred. Os destaques são os meninos David Mazouz e Camren Bicondova, que são Bruce Wayne e Selina Kyle respectivamente. Os dois se entregam ao estilo e parecem estar realmente se divertindo com a série, mesmo que seus personagens sejam um tanto quanto desnecessários para o todo.
Até o momento só tem onze episódios liberados. Metade são uma loucura. A outra metade tem ótimos momentos, mas nunca é realmente bom. Ainda assim, não consigo deixar de esperar impacientemente pelo próximo episódio. Estou envolvido com a história. O que, considerando o quanto detesto quase toda série que vejo, é algo impressionante.

ALLONS-YYYYYYYYY…

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