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Fora do cinema – How I Met Your Mother (parte II)

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Leitores, em abril de 2014 eu retomei a série How I Met Your Mother do começo. O motivo: Eu parei de assistir na sétima temporada dois anos antes e precisava das referências anteriores para poder compreender as duas últimas temporadas e o tão comentado final. Como eu já disse antes, bastou rever os três primeiros episódios para me ver preso novamente na história de Ted e seus amigos.

Também disse antes que assistir tudo de uma vez me proporcionou uma experiência única. Enquanto assistia ao show no ritmo normal, não pude perceber alguns detalhes importantes e inteligentes. Quando me sentei para rever apenas os três primeiros episódios acabei assisti quase dez.
O motivo pelo qual não conseguia parar de assistir à bagaça era bem simples. Ali estavam cinco pessoas aproximadamente na minha idade. Todos cheios de sonhos e esperanças em relação ao futuro, com conversas que divergiam entre a inocência e as obrigações da maturidade. A graça se encontrava na forma como eles brincavam e apenas buscavam se divertir após passarem dias muito ruins com as coisas terrivelmente chatas, complicadas e muitas vezes cruéis da vida comum.
Pouco tempo depois eu comecei a perceber algumas coisas. Primeiro, trata-se de quatro pessoas muito ruins e um cara muito legal convivendo. São todos alcoólatras que se encontram todos os dias para beber ou cerveja ou uísque. Provavelmente um pouco dos dois. Grande parte dos conflitos dos episódios desenvolvem situações entre os personagens enquanto estão nessa reunião diária no bar.
Dentre essas situações, temos o óbvio. Barney está sempre tentando conquistar a próxima transa e contando vantagem sobre a forma como ele vai magoar as mulheres. Além disso, tudo ao redor dele releva essa maldade. Ele gosta dos vilões nos filmes, relações profundas além de parcerias para conquistas lhe causam repulsa e constantemente ele toma decisões conscientes de machucar alguém além das mulheres com quem tanto faz sexo.
Mas Barney é o único honesto do grupo. A Robin se faz de garota boazinha com seus cachorros e tudo o mais, mas não é exatamente um exemplo de pudor. Talvez seja quem mais bebe do grupo, tem orgulho de conseguir abusar dos homens através de sua beleza e não tem vergonha de admitir que transou com um cara por quem não sentia atração apenas porque ele estava ali. Sem contar que ela está constantemente maltratando os amigos, inclusive se permitindo passar por vergonhas na televisão como dar tapas na própria bunda enquanto diz que é uma garota safada.
A Lily, supostamente a perfeita esposa e metade de uma espécie de casal perfeito, é mesquinha, mimada, maltrata as crianças que é paga para cuidar e ensinar. Além de achar que tem o direito de se meter na vida dos amigos, tratando-os como as crianças onde dá aula. Ela é ainda pior porque não possui nem um pingo de interesse em admitir seus defeitos.
E o Ted trai namoradas, não se acanha em enganar mulheres (apesar de se acanhar na hora de admitir os erros), mente, rouba itens de restaurantes, maltrata pessoas que estão em situações ruins em posições abaixo da dele.
Em contraste, Marshall é o marido perfeito aceitando todos os problemas da esposa e cedendo aos pedidos inusitados e ilógicos dela. Ele bebe tanto quanto os amigos, mas se importa com todos com quem encontra, poucas vezes maltrata alguém com quem não tenha ficado com algum nível de raiva. Além de ser um ingênuo que acredita em sua capacidade de salvar o mundo e em lendas e mitos, tal qual uma criança.
Além disso, surgem outros problemas básicos entre os cinco. Todos eles constituem um grupo com uma interdependência terrível (que eventualmente é reconhecida na figura de um psicólogo). Eles se apegam uns aos outros de uma forma quase doentia. Para piorar, eles escondem os sentimentos em qualquer situação, o que normalmente os leva a momentos ridículos nos quais apenas desabam abaixo da pilha de problemas sobre os quais se recusam a discutir.
Daí surgem imagens clássicas da série como a abaixo.

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Robin, numa das melhores cenas em que desaba.

Com o passar do tempo eles “amadurecem”. O que leva à perda de grande parte da graça do material. Principalmente na oitava temporada, que é tão ruim que quase me fez desistir da maratona insana na qual me envolvi.
Apesar de tratar dessas pessoas com comportamento altamente questionável, esse é justamente o motivo pelo qual a série é tão boa. Essa imaturidade é inerente e comum a todos. Quem não entende a empolgação insana de Marshall de pegar o carro por impulso para encontrar com os amigos em outro estado no meio da noite? Ou a vontade de Barney de provar que ficar acordado além das duas da manhã não é negativo? Ou que eles não devem aceitar que estão ficando velhos. É uma vontade quase infantil de lutar contra o inevitável.
Tudo isso garante aquele típico humor absurdo de sitcoms americanos. Os personagens agem de forma exagerada que beiram o nonsense, mas tudo dentro dessas falhas sérias em suas personalidades. Fazendo isso, o exagerado parece apenas natural em um mundo que é basicamente constituído pelas lembranças contadas de um pai para seus filhos.
Ao término de um mês, eu havia testemunhado nove anos da vida daqueles personagens. Não foi uma jornada fácil, mas foi muito emocional. Mais de uma vez chorei com aquelas pessoas e acima de tudo, as compreendi enquanto elas cometiam erros de diversos níveis. Alguns muito pesados, outros comuns das rotinas de todos. Até que eu cheguei ao final e compreendi minha versão do discurso total da série. E achei brilhante. Mas isso fica para outro post.
 
…WAIT FOR IT…

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