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Explicação demais

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Entre os críticos e estudiosos de cinema, é normal ouvir as pessoas concordando em relação a um problema da arte. Hoje em dia é comum ver filme com superexposição. O enredo não é explicado através da linguagem audiovisual. Pelo contrário, algum personagem sobressalente aparece e explica tudo mastigadinho. O filme que sempre me vem a mente quando penso nisso é O Último Mestre do Ar. De cinco em cinco minutos a personagem Katara explica algum contexto novo do filme.

A princípio, também concordo. Acho superexposição algo ridículo e que normalmente estraga um filme. Mas infelizmente tem gente que precisa de um pouco disso para entender uma obra.
Não acho que são pessoas ignorantes ou com pouca inteligência. Muito pelo contrário. São pessoas que se acostumaram com informações mastigadas. As pessoas simplesmente não vão para o cinema querendo raciocinar sobre um filme. Muitas vezes, sequer entendem como os eventos estão interligados.
Eu digo isso como alguém que já foi assim. Durante minha primeira sessão de Homem-Aranha 2, com meus 16 anos, me peguei percebendo como certo acontecimento estava conectado com o anterior e como todos somavam algo para a trama. Percebi também que não estava prestando atenção nisso. Só queria ver meu herói favorito salvando o dia.
Ao final do filme estava perplexo com o quanto ele era bem construído e desenvolvido. E com o quanto nunca prestei atenção a esse tipo de coisa. Foi um momento de choque e de desenvolvimento para meu cérebro de amante de cinema.

Homem-Aranha 2. Ajuda muito ter um ganhador de Pulitzer na equipe de roteiristas
Homem-Aranha 2. Ajuda muito ter um ganhador de Pulitzer na equipe de roteiristas

Um ano mais tarde, quando estreou Guerra dos Mundos, entrei em uma roda de discussão sobre o filme com um grupo de pessoas que vêm cinema apenas como entretenimento casual. De repente, um homem perguntou se alguém havia entendido o final. Outra pessoa respondeu que, pelo que ela entendeu, os tripods haviam morrido porque o Tom Cruise matou um no final do segundo ato. E por causa daquilo todos os outros caíram juntos.
Se a sua reação foi “JESUUUUUUUUUIS!” foi bem parecida com a minha na hora. Expliquei para eles o final e fiquei pensando muito no assunto. O filme começa e termina com tomadas de seres que passam doenças (bactérias), fecha com um voice-over explicando o que foi que matou os alienígenas. Ainda assim, mastigadinho, aquelas pessoas não entenderam.
Pior ainda, buscaram a explicação de que o Tom Cruise é o herói do mundo. Nem se deram ao trabalho de perceber que o filme se tratava da transformação daquele pai imaturo em um adulto responsável por seus filhos.
Guerra dos Mundos. Nem quando ele não quer, o Tom Cruise acaba sendo herói.
Guerra dos Mundos. Mesmo quando ele não quer, o Tom Cruise acaba sendo herói.

É complicado pedir para que uma pessoa se dê ao trabalho de assistir filmes mais difíceis nessas condições. Todo mundo precisa de coisas mais fáceis para começar a se interessar por cinema. Como fazer a transição desses para o mais conceituais. Eu mesmo não sei dizer como foi que fiz.
Homem-Aranha 2 foi só um passo pequeno nessa direção. Quais os outros passos? Impossível dizer.
 
FANTASTIC…

2 comentários em “Explicação demais

  1. Entendo o teu ponto… Inclusive, mudando de assunto mas não tanto, lembro que quando fui ver o musical do “…E o Vento Levou” em Londres, eles tornaram o livro/filme em um musical que ficou super explicado também, e por isto teve péssimas críticas e não vingou (apesar de eu ter adorado os atores).
    Pelo menos em alguns lugares esse tipo de ‘mastigadinho’ não é o esperado 😉

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