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Em Transe

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Danny Boyle está de volta. Ao invés de seguir adiante com filmes dramáticos de superação que conseguem indicações ao Oscar, ele retorna ao suspense psicológico com Em Transe. Mais uma trama policial que aproveita do estilo acelerado e a montagem esperta do diretor. Uma ideia boa para um suspense somada ao estilo Boyle de fazer filmes.

Simon é um leiloeiro de uma casa de leilões. Um grupo assalta a casa para roubar uma obra do Goya. Durante o assalto, Simon tenta deter um dos bandidos e leva um golpe violento na cabeça. Os assaltantes descobrem que Simon roubou a pintura antes deles. Porém, Simon perde a memória dos eventos após o golpe. Os bandidos vão atrás dele para pegar o quadro, mas ele esqueceu do que fez com a peça. O grupo vai atrás de uma terapeuta que lida com hipnose para ajudar Simon a lembrar do ocorrido.
Como um bom suspense policial, nada é o que parece e a cada dez ou cinco minutos acontece uma reviravolta. O legal é como Boyle mergulha na mente de Simon para desconstruir a realidade das suas memórias. O personagem começa a esquecer seu passado e a lembrar de coisas que não existem ali.
Tudo é mistério. Por que Simon roubou a pintura dos bandidos? Por que a terapeuta parece conhecer o paciente? Por que a memória do roubo se confunde com lembranças da terapeuta sendo que eles nunca se conheceram? Por que a terapeuta quer tanto se envolver no caso?

Vincent Cassel e sua gangue. Observando a hipnose.
Vincent Cassel e sua gangue. Observando a hipnose.

Mergulhando na mente de Simon, a realidade se confunde. É algo muito complexo de ser realizado em filme. Mas Boyle o faz com eficiência. Sempre que alguma reviravolta acontece, o diretor deixa uma pista do mistério final ser vista no canto da tela com um ou outro detalhe menor. Seja com um olhar da terapeuta, com um flerte do bandido ou até com uma arma escondida no cenário.
Boyle usa seu estilo metafísico para transformar a realidade de Simon em um turbilhão de informações dispostas na tela. Uma memória pode ser acessada através de um ipad, um personagem se transforma através de cortes. Pessoas da realidade aparecem também na mente de Simon.
O ritmo é acelerado como em um videoclipe, como dita o padrão de Boyle. A fotografia usa e abusa de vidros e espelhos, montando os enquadramentos com reflexos e imagens distorcidas. Mas o especial é a montagem. As cenas de lembrança quase não possuem mais de uma filmagem. Ainda assim, os segredos revelados nelas são mostrados mesmo quando ainda não fazem sentido. Eles viram pistas do grande mistério final.
Como direção é um trabalho maravilhoso. O problema reside no roteiro. Os roteiristas criam um mistério muito bem escrito e desenvolvido. Acompanhamos o drama de Simon tentando se livrar dos bandidos. Ele é o protagonista.
Rosario Dawson entre os reflexos da fotografia de Danny Boyle.
Rosario Dawson entre os reflexos da fotografia de Danny Boyle.

Até o final. Quando o mistério é revelado fica tudo confuso. Fica um gosto amargo. Parece que devíamos ficar satisfeitos com o suposto final feliz apresentado. Mas os personagens não são pessoas por quem estamos torcendo. O roteiro fica sem pontas soltas, mas o final simplesmente não funciona.
O elenco é ótimo. James McAvoy, Vincent Cassel e Rosario Dawson fazem os três personagens principais. McAvoy faz um Simon cheio de neuroses e no limite da sanidade. Vincent Cassel tem um personagem mais contido que o seu habitual, mesmo sendo o vilão. Quanto à Rosario Dawson só se pode dizer que ela está sensacional. Uma interpretação que passa do dramático para o contido com uma nudez bastante ousada.
Em Transe é uma ideia interessante, com um desenvolvimente maravilhoso e um final fraco. Não é o melhor filme do Danny Boyle, mas é uma demonstração poderosa de sua capacidade de direção.
 
ALONS-YYYYYYYYY…

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