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Cujo (1981)

Cujo é um desses clássicos da cultura popular que tem várias referências, mas poucas pessoas conhecem de verdade. Também é um dos grandes livros do começo da carreira de Stephen King e uma das adaptações para cinema que ele mais gosta. Mas, no Brasil teve apenas uma versão lançada na época do lançamento. Finalmente, uma nova reedição em uma coleção que a editora Suma produz para o autor foi lançada em 2016.

King conta a história de Donna Trenton e do filho Tad, quando vão deixar o carro com problemas no mecânico. Lá, o cachorro da raça são bernardo de 90 kg do dono do estabelecimento chamado Cujo, os ataca com sinais claros de raiva. Com o veículo defeituoso, eles não podem fugir. E o calor local transforma o espaço em uma pequena estufa.

A ideia de Cujo é simples, um suspense com pessoas sem saída em um espaço fechado e com tempo limitado para conseguir escapar. Também é um tipo de premissa com que King gosta de trabalhar, como em 1408 ou Jogo Perigoso. Porém, quando o autor resolve escrever algo, há o diferencial pessoal de como ele constrói as histórias.

Cujo é maior que um contexto simples

Uma vez que teve a ideia de criar essa situação claustrofóbica, ele precisou pensar na lógica e nas coincidências para que duas pessoas ficassem sitiadas por um cachorro com raiva. Em 1980, seriam necessárias condições especiais para isso.

Por que o mecânico não os ajuda? Por que o vizinho mais próximo não escuta a situação? Por que ninguém percebeu que o cão era raivoso antes? Por que a mulher estaria sozinha com o filho? Onde está o marido dela? Para outros autores, talvez fossem problemas resolvidos com uma ou outra fala rápida. Mas King usa para aumentar a tensão e o envolvimento.

Por isso, também, o livro tem 376 páginas. Mais da metade é de desenvolvimento dessas situações. Desde o amante de Donna, até a relação abusiva do mecânico com a esposa. O que também cria um ou outro momento arrastado, como as longas descrições do mercado publicitário em que Vic, marido da mulher presa com o filho, trabalha.

Ainda assim, tudo é importante para que Cujo fique sozinho na oficina no ápice da doença, e também acrescenta à tragédia e ao horror. Quando algo terrível acontece nas histórias de King, há um peso emocional adequado. Não se trata apenas de um suspense rápido, mas de como esse evento vai transformar todos ao redor. Da família Trenton até a família do mecânico. O que requer um autor com uma capacidade de simpatia impressionante para ser capaz de colocar as dores, temores, desejos, alegrias e esperanças de cada tipo de personagem diferente que aparece no livro.

Então o espectador compreende o drama tanto do marido quanto da mulher depois de uma traição dela. Mas também entende a perspectiva do mecânico ignorante que acha que a esposa é uma criada com quem ele pode transar de vez em quando.

O mais importante: o espectador entende a tragédia do próprio Cujo. Um cachorro carinhoso que só quer satisfazer qualquer pessoa que encontra. E compreende também, da perspectiva do cão, a perda do autocontrole. Ele é uma das maiores vítimas da história, e um dos que mais sofre no decorrer dela. Essa sensação só perde um pouco de peso quando King sugere que há algo sobrenatural na condição do bicho.

Cena do filme em que Cujo é mordido e pega raiva.

Duas coisas chamam a atenção. Primeiro porque é o único livro de King que começa com a frase “Era uma vez”. O que indica um contexto quase de contos de fada para a trama. E segundo, porque Cujo tem apenas um capítulo. Como se o autor quisesse que a história fosse digerida de uma só vez. Com tantas dores e sofrimentos retratados, é quase como se o espectador levasse um golpe emocional contínuo através da história.

Cujo

Prós

  • História simples consegue ter impacto forte
  • Personagens bem desenvolvidos aumentam tensão e tragédia

Contras

  • Momentos de desenvolvimento desnecessários
  • Sugestão de um evento sobrenatural diminui o impacto

1 comentário em “Cujo (1981)

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