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Cormoran Strike e os seus 4 livros

Gêneros preenchem uma necessidade do cérebro de criar padrões para sabermos classificar melhor os diferentes tipos de cultura. Na literatura há o suspense, que engloba o policial, que ostenta o livro de detetive, também conhecido como quem matou. Ou, no termo em inglês, whodunnit. E um dos mais novos investigadores da linha é Cormoran Strike.

Ele é um ex-investigador da polícia militar britânica (no país, o cargo é quase como uma corregedoria das forças armadas) que se aposentou após perder parte da perna direita em um bombardeio. Devido à paixão pelo trabalho de detetive, abriu uma agência particular. Junto com a parceira, Robin Ellacott, Cormoran Strike se envolve em casos de assassinatos.

A série começou com o livro O Chamado do Cuco, lançado em 2013 por um tal de Robert Galbraith. Mais tarde foi revelado que o nome era um alter ego da J. K. Rowling, a autora do Harry Potter. Até o momento conta com quatro livros, um seriado de TV britânica e a quinta publicação está prevista para 15 de setembro na Inglaterra.

A história de Cormoran Strike

Não há muito a ser dito sobre enredo. Cormoran Strike se envolve em alguma investigação de assassinato, entrevista suspeitos e revela quem é culpado no final. O diferencial é o detetive e a parceira. As aventuras pessoais dos dois ofuscam os crimes e envolvem mais o leitor que as investigações.

Isso porque Rowling cria os dois personagens com problemas que refletem as visões de moralidade dela. Certamente não se deve esquecer das histórias recentes de intolerância por parte da autora, mas à parte de questões de gênero, ela se preocupa com o lugar da mulher no mundo atual.

É por isso que a relação de Robin com o noivo Mathew irrita tanto. Nem ele mesmo percebe que as astitudes dele são de abuso. Mas é justamente por isso que impressiona. Parece absurdo ver como ele tenta manipular a mulher e ela aceita, mas o comportamento dela é comum no mundo real.

No decorrer dos livros, Rowling revela mais sobre as razões para Robin ser como é e escolher estar naquela relação. O embasamento que ela escolheu dá o tom do que muitas mulheres passam de verdade. Mesmo as mais inteligentes e resilientes, como a personagem.

É por isso também que a relação dela com Cormoran Strike é tão cativante. Mesmo que ele seja um brutamontes irritante, ele faz o mínimo no sentido de respeitá-la como pessoa. Com tantos personagens bem construídos, é fácil se afeiçoar ao micro, das pessoas, e se perder do macro, dos crimes.

A escrita de Rowling

Como na maioria dos livros de Rowling, a história é sempre profunda e bem construída. Com atenção aos mínimos detalhes. O maior problema dela, no entanto, também se repete. A forma como escreve. Se os sete Harry Potters eram criticados pela pobreza textual, aqui ela busca frases, descrições e construções mais rebuscadas que tendem a ser cansativas.

O que não é facilitado pela forma como a história acontece através das páginas. Nos dois primeiros livros, O Chamado do Cuco e O Bicho-da-Seda, Strike conversa com cada suspeito para pegar todas as versões dos testemunhos, assim como os heróis da Agatha Christie. A diferença é que as conversas raras vezes são sobre os crimes, mas sobre as vidas de todos os envolvidos.

O tom descontraído esconde o fato de que o detetive está colocando as versões em contraste para identificar os assassinos. E também faz com que as falas não retenham a atenção do leitor, que vai perder pistas importantes e, às vezes, esquecer de alguns personagens fundamentais entre um capítulo e outro.

Nas revelações, Strike mantém o tom de bate papo e muitas vezes elas acontecem quando nem os outros personagens, nem o leitor percebem que estão no momento derradeiro. Fica sempre uma sensação de que nem todas as dúvidas foram explicadas. Da mesma forma que o leitor tampouco sabe como o detetive chegou às conclusões.

Mas, entre todas as reviravoltas, Rowling dá pequenas pistas e dicas do que acontece nas vidas pessoais dos protagonistas. E, assim, é difícil não voltar a se interessar nas tramas, mesmo que as investigações tendam a parecer atrapalhar o andamento.

Felizmente, nos dois últimos livros, Vocação para o Mal e Branco Letal, Rowling cria tramas mais interessantes, com investigações mais envolventes. A dupla passa a ser perseguida, se envolve pessoalmente com os casos, e tem até pequenas aventuras ao se infiltrarem em grupos.

Revelação

Eventualmente, é difícil não vibrar com as reviravoltas pessoais dos personagens e estar empolgado com o futuro dos dois. Também é muito válido pela forma como a autora discute o mundo predatório que cerca as mulheres em vários níveis da sociedade. Especialmente em Vocação para o Mal.

É preciso ser dito, porém, que o segundo livro tem uma personagem trans que reflete justamente a transfobia da autora. Não é surpresa que este é o pior dos quatro. Por outro lado, a participação é tão pequena que foi possível até cortar a trama paralela da adaptação para a série de TV.

É preciso se acostumar com o estilo de mistério que Rowling quer contar no começo do primeiro livro. Mas assim que Strike e Robin se revelam personagens interessantes, fica difícil largar as histórias.

Franquia Cormoran Strike – O Chamado do Cuco, O Bicho-da-Seda, Vocação para o Mal e Branco Letal

Prós

História detalhada

Personagens cativantes e com histórias aprofundadas

Continuidade envolvente

Contras

Autora demora a pegar o jeito para tornar as reviravoltas mais divertidas

Preconceito de Rowling aparece no segundo livro

Para os interessados, escreveremos um texto sobre a série de TV nas próximas semanas.

1 comentário em “Cormoran Strike e os seus 4 livros

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