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Círculo de Fogo

PACIFIC RIM

Para aqueles que estavam sentindo falta de um bom arrasa quarteirões nesta temporada de verão americana, chega Círculo de Fogo. Foi preciso um mexicano com referências a mil e um produtos japoneses para termos um grande filme de efeitos especiais. Esquece aquele papo burro de desliga o cérebro e curte. Quando o diretor é inteligente, você pode pensar a vontade e o filme vai te fazer vibrar com suas cenas incríveis.

Monstros gigantes começam a surgir de uma fenda dimensional do fundo do oceano Pacífico. A humanidade lida com eles construindo robôs gigantes. A princípio funciona muito bem, mas os monstros começam a ficar mais violentos e adaptados para enfrentar os robôs. Os humanos desenvolvem então um último plano para derrotar os inimigos.

Premissa de filme japonês, realizada por americanos com milhões de dólares em efeitos especiais e dirigida por um mexicano. A mistureba funciona por conta da parte mexicana. Guillermo del Toro sabe que está fazendo um filme que não deve ser levado a sério. O negócio aqui é colocar robôs gigantes pra sair na porrada com monstros gigantes. O resto não importa muito.

Bem. Para falar a verdade importa sim. Porque Círculo de Fogo não é feito apenas da ação e dos efeitos especiais. É feito também de um bom roteiro. Não é cheio de reviravoltas ou coisas mirabolantes. O roteiro é contido e minimalista, mas é o suficiente para criar os conflitos necessários para que nos importemos com os personagens ao mesmo tempo em que cria o contexto para aquelas cenas maravilhosas.

O filme abre explicando rapidamente a invasão dos monstros e a criação dos robôs para logo em seguida nos dar a primeira luta entre os dois. Não é gratuito, essa primeira cena tem importância para a história e já desenvolve o protagonista. Além disso, dá o tom para o resto da produção.

Depois o filme aproveita um bom período de desenvolvimento narrativo entre os humanos. Nesse período, o ritmo é rápido, as cenas são divertidas e não deixa de ter grandes e divertidos efeitos especiais. Apesar disso, ainda explica todos os conflitos e contextos para que queiramos torcer para os personagens nas cenas de ação ao mesmo tempo em sabemos todos os objetivos enquanto a pancadaria acontece.

Então, no meio do filme, começa a porradaria. Mas ação pela ação não é o bastante. É preciso um diretor brilhante para conseguir fazer com que não percamos o foco em meio aos milhões de cortes e efeitos.

Ação bem conduzida. O filme nunca perde o foco.
Ação bem conduzida. O filme nunca perde o foco.

Na sequência que fecha o segundo ato, entramos na batalha com todos os objetivos e obstáculos bem claros. Durante, entendemos todos os golpes, todas as reviravoltas e todos os perigos. Isso com diversos focos paralelos ao mesmo tempo. Tem o cientista perdido na cidade. Os pilotos dos quatro robôs envolvidos. Os dois monstros em lugares diferentes. O centro de comando. Então o segundo ato fecha com uma das melhores cenas do ano. Com direito ao público aplaudindo e gritando na sala de cinema.

Del Toro faz um jogo de referências no design de produção. Os robôs são uma mistura de Evangelion com características de outras obras salpicadas aqui e ali. Os monstros são referências diretas a Shadow of the Colossus, com direito às linhas de luminescência através do corpo. Sem a profundidade dessas obras.

A ideia é ser robôs gigantes contra monstros gigantes. A profundidade é apenas o suficiente para não ser um filme bobo. Ao mesmo tempo em que não é séria o bastante para estragar o tom de diversão.

Os efeitos especiais são impecáveis. Acho que nunca vi um filme que trabalha com escopo tão grandioso parecer tão real. Cada golpe e movimento passa a sensação de peso e de tamanho sem nunca parecer falso.

O 3D é convertido, mas está muito bem feito. As cenas de ação ganham uma grandiosidade especial com a profundidade do efeito. O problema é nas cenas com humanos. O efeito fica tão ruim em algumas partes específicas que chega a incomodar e me fez tirar os óculos do rosto mais de uma vez.

Os atores estão todos muito bem, com exceção do comediante Charlie Day. Ele faz o cientista que tenta fazer o filme ficar mais engraçado. Exagerado demais até para esta produção. Os outros sustentam muito bem, principalmente o Idris Elba. Que homem! O ator que faz o protagonista é desconhecido pra mim, mas está muito bem. É um prazer rever a Rinko Kikuchi com uma personagem feminina forte que não é a donzela em apuros. Ela tem a quantidade certa de vulnerabilidade sem ser frágil ou ridícula. E como ela está linda. Que mulher!

Rinko Kikuchi. Vulnerável, mas nunca frágil.
Rinko Kikuchi. Vulnerável, mas nunca frágil. Que mulher!
Idris Elba. Que homem!
Idris Elba. Melhor ator do filme. Que homem!

Tem um ou outro momento em que fica bobo demais. Mas del Toro deixa claro porque é o diretor genial que adoramos. Recupera o tom rápido e nos faz esquecer dos poucos deslizes da obra.

 

FANTASTIC…