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Cinquenta Tons Mais Escuros (Fifty Shades Darker – 2017)

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A continuação de Cinquenta Tons De Cinza chega aos cinemas com a tarefa de cumprir muitas expectativas. Os fãs da trilogia literária se encontravam apreensivos quanto ao tempo que teriam que esperar pelo filme, que daria sequência à trama de Ana e Christian, mas a espera não foi das mais longas. Apenas dois anos após o lançamento do primeiro, que apresentou a franquia aos cinéfilos, Cinquenta Tons Mais Escuros chegou com o elenco original, e roteirista e diretor novos.

A contratação de uma nova equipe de produção foi decisiva para definir o rumo que a saga tomaria a partir do segundo filme, e é verdade que um roteiro criado em cima de um livro best-seller tem algumas mordomias que textos originais não têm, como por exemplo,
não precisar definir a evolução dos eventos ou dos personagens, porque já está tudo lá, na página. Em contrapartida, materiais originais não precisam agradar fãs que já conhecem a historia e vêm com expectativas altas para as salas de cinema. São estes que o estúdio tem como prioridade, afinal, a jogada comercial é grandiosa e francamente, brilhante.

Em sequência ao final da trama anterior, Cinquenta Tons Mais Escuros explora a evolução do relacionamento entre os protagonistas, o amadurecimento emocional de Ana (Dakota Johnson), o processo de auto conhecimento de Christian (Jamie Dornan), e as ramificações dessa nova dinâmica nas vidas dos dois, e mais um considerável número de personagens secundários. Além disso, há uma trama paralela que acompanha o ressurgimento de uma antiga submissa de Christian, Leila (Bella Heathcote) que se tornou imprevisível e perigosa, e o novo chefe de Ana, Jack (Eric Johnson), que parece ter mais relevância para o desenrolar da trama do que parece inicialmente.

É claro que muitos desfechos ficam para o próximo filme, que vai fechar a trilogia, mas há um bom balanço entre mistérios em aberto e conclusões momentâneas, que revelam pequenos segredos apenas sugeridos no filme anterior.

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Casal mascarado. Muitos segredos a serem revelados.

A evolução dos personagens fica clara como o dia, e é satisfatório ver Ana tomar decisões que preservam a independência e força de vontade dela, apesar da completa entrega que ainda parece se permitir quando se trata do relacionamento com Christian. Este revela muito mais sobre o passado e os problemas psicológicos gerados como consequência, o que trás uma nova luz ao personagem, mais humanizado e, quem sabe, até perdoado, ainda que parcialmente, pelas atitudes anteriores que tanto incitaram o nosso músculo feminista.

As atuações de Johnson e Dornan mantém o mesmo nível, ou seja, não há surpresas ruins, tão pouco boas. O elenco de apoio parece ter sido construído com mais nuances dessa vez, especialmente a família de Christian, muito presente durante toda a trama, com destaque para sua mãe Grace (Marcia Gay Harden) e irmã Mia (Rita Ora). Eles permitem que o espectador sinta nuances de sentimentos, diferenciados do total desconforto ou total devoção para com a história, como parece ser o caso da maioria dos que assistiram o filme anterior. Durante Cinquenta Tons Mais Escuros, é clara a turbulência emocional que se sente, sem saber exatamente em que grau de comprometimento você se encontra para com o que está assistindo.

O filme apresenta um leve problema de ritmo, por vezes perdendo a mão na hora de dosar as cenas de sexo que parecem se impor ao conflito dramático e romântico que domina a tela. Dessa vez não há cenas de agressão ou pura e simples imposição de dor, mas os elementos de sadomasoquismo estão definitivamente presentes, em dosagens mais homeopáticas por assim dizer. Os fãs das cenas picantes mais violentas talvez não fiquem satisfeitos com as cenas do segundo filme. A verdade é que a relação entre dominante e dominada a que fomos apresentados em Cinquenta Tons De Cinza evoluiu, sofreu uma mutação, e agora reflete muito mais prazer do que qualquer outra coisa. A química entre os protagonistas sempre esteve presente, mas fica claro que a convivência os deixou mais a vontade um com o corpo do outro, e isso faz das cenas mais suaves e palatáveis, menos tensas.

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Mais intimidade também significa sexo mais palatável.

Com direção de James Foley – House Of Cards (2013-2015) -, e roteiro de Niall Leonard, sente-se durante o longa, uma certa necessidade em correr com os fatos para evitar que cenas importantes do livro se percam na hora da releitura. Mas o problema de ritmo somente atrapalha quem procura por mais desenvoltura na trama em si. Quando se sabe que o que conta de verdade para um roteiro baseado num romance erótico é explorar ao máximo a relação entre o casal central, todo o resto fica em segundo plano. Isso não é nenhum pecado na literatura, quando se tem páginas infinitas para criar a ambientação perfeita, se debruçar em detalhes e explorar cada momento com minúcias; mas no mundo cinematográfico isso apenas se traduz bem com um roteiro excelente, e um editor melhor ainda. Infelizmente, não foi o caso.

Cinquenta Tons Mais Escuros abre novos horizontes para o terceiro filme, o tira da caixinha erótica dentro da qual os três filmes foram colocados pelos fãs da trilogia, e explora conceitos leves como as ruas e vistas da cidade de Seattle, outros tantos ambientes que não a opulenta cobertura de Christian, e as outras relações existentes em sua vida que não a que ele tem com suas submissas e com o trabalho.

Agora a história de amor entre Christian e Ana não está mais fundamentada em sadomasoquismo, mas sim foi desenvolvida em algo profundo, verdadeiro, conflituoso e muito mais honesto, apenas delineado pelo erotismo peculiar de Grey, e muito mais agradável de se ver. Aguardamos o que o filme final nos trará.

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