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Se meu Transformer falasse (Bumblebee – 2018)

Bumblebee é um marco na franquia Transformers. É o primeiro live-action que é dirigido por outra pessoa além de Michael Bay, assim como é a estreia de um spin-off para a marca, e a única que muda de tempo ao se afastar da atualidade. O que já indica algo que até o estúdio já percebeu, a série entrou em desgaste. A dúvida é se essa continuação, prequência, reboot, ou o que você quiser chamar é bem sucedida.

Durante a guerra civil no planeta cybertron, os rebeldes autobots perdem uma última batalha e fogem para procurar um novo lar, enquanto são perseguidos pelos opressores decepticons. O soldado Bumblebee (dublado por Dylan O’Brien) é destacado para iniciar uma base na Terra na década de 1980, mas perde a voz e a memória na chegada. Desesperado, ele assume a forma de um fusca e para nas mãos da adolescente Charlie (Hailee Steinfeld).

Um monte de déjà-vu ocorrem ao espectador que acompanhou a série nos cinemas. A trama é basicamente a mesma do primeiro filme, com a diferença de que o robô vai para uma garota, ao invés de um garoto. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento de uma amizade com um ser diferente que transforma a vida de um menor de idade traz inúmeros filmes à mente (sendo E.T., dirigido pelo produtor executivo deste, Steven Spielberg, o grande pioneiro do tipo de narrativa).

Steinfeld e fusca
Charlie com o robô disfarçado. Nostalgia é a palavra de ordem.

Clichês, por si só, não são negativos. O problema é a repetição, mas quando um diretor ou um roteirista acerta, o clichê revela porque virou um estereótipo. Neste caso, a graça é ver como Charlie aprende a lidar com o luto da morte do pai e seguir adiante devido ao convívio com o carismático robô alienígena.

É onde o novo diretor Travis Knight (cuja experiência anterior está inteiramente em animações de stop-motion) revela o valor de sair da estética de Michael Bay. Apesar de contar a mesma história do primeiro filme, não há ângulos constrangedores em corpos de adolescentes, nem imagens de pores de sol impossíveis ou incoerentes, nem humor gratuito em cima de estereótipos racistas.

Muito pelo contrário, Knight aproveita do melhor que a computação gráfica pode pagar para criar planos inventivos nos quais a câmera transita atrás de Charlie nas cenas enquanto Bumblebee muda de forma. Então o fusca vira um robô enquanto as engrenagens dele giram ao redor da tela.

o autobot encara John Cena
É impossível dizer que o robô gigante é um monte de zeros e uns.

Assim, ele cria dinamismo nas cenas sem precisar abusar de imagens grandiosas desnecessárias. Também abre mão da verossimilhança na animação para que Bumblebee consiga se transformar muito mais rápido que nos filmes anteriores e que nem sempre seja possível acompanhar onde cada peça vai entre as duas formas. Isso serve para piadas relacionados às tentativas de Charlie em esconder e proteger o amigo, e ainda aumenta a sensação de fantasia da aventura.

No entanto, Knight não abandona completamente a noção de mundo construída por Bay. O mundo ainda é tomada por cores quentes durante o dia, com céus claros e pessoas com roupas curtas para curtir o verão. De noite, holofotes dialogam com a grandiosidade dos robôs e da ação. É um filme Transformers, e é um filme de autoria do diretor ao mesmo tempo.

Onde Knight tem problemas, infelizmente, é na cenas de ação. Com os ângulos inventivos, ele normalmente torna difícil entender as lutas dos robôs além dos montes de engrenagens que mexem de lá para cá. E o roteiro de Christina Hodson tem muitas qualidades relacionadas aos personagens e as jornadas de cada um, mas esquece de dar personalidade para Bumblebee e é mais longo do que deveria ser.

par romantico
Charlie com o amigo Memo. Personagens bem construídos.

Esse interesse nas pessoas ganha muito com um elenco afinado. Steinfeld já se provou inúmeras vezes como uma grande atriz e consegue conversar com o companheiro digital em cena com uma naturalidade impressionante. O mesmo pode ser dito de Jorge Lendeborg Jr., intérprete do amigo e possível interesse romântico de Charlie, Memo.

Ele ainda tem a vantagem de ter despreendimento para ser um alívio cômico que faz rir da falta de jeito ao tentar, em quase todo enquadramento, se aproximar de Charlie fisicamente sem deixá-la desconfortável. E John Cena faz bem o que tem feito com a carreira de ator recente, ao tentar dar honestidade para cada cena em que atua. Infelizmente, é o ator com maior dificuldade na hora de interagir com os fundos verdes.

Bumblebee conseguiu o que nenhum filme de Transformes alcançou até o momento, aquela sensação gostosa de uma aventura divertida e oitentista. Para satisfazer os fãs de Spielberg, do Brad Bird, do George Lucas, do Robert Zemeckis e vários outros que acertaram a mão no estilo.

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