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Boa Sorte

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Boa Sorte é um filme que herda de muitas linhas do cinema. Sua diretora é a filha de Arnaldo Jabor, Carolina Jabor. É adaptação de conto de um roteirista e diretor que sempre trata de amor na juventude. Acima de tudo, é um filme que, por conta de sua temática, vai sofrer comparações óbvias com coisas como Um Estranho no Ninho, Garota Interrompida e até mesmo o brasileiro Bicho de Sete Cabeças. Felizmente, se desvincula de todas os estereótipos.

João (Pedro Zappa) é um garoto de 17 anos que é internado em um sanatório porque seus pais descobriram que toma remédios da mãe escondido. Lá, se envolve aos poucos com Judite (Secco), uma mulher aidética que abusa das drogas e, por conta do desgaste físico, não pode tomar os coquetéis que ajudariam a prevenir sua morte.
Trata-se de uma história de amor entre duas pessoas com problemas de saúde mental. Através de suas peculiaridades específicas, João e Judite conseguem dialogar naturalmente, apesar dos diversos momentos incomuns que resultam das interações. Ao mesmo tempo, os pontos de vista incomuns dos personagens servem para pequenos comentários críticos e irônicos sobre a sociedade.
Jorge Furtado adapta o próprio conto, Frontal com Fanta, para o roteiro. A trama segue a estrutura básica de romances. Personagens se conhecem, se apaixonam, vivem o amor que sentem e encontram um problema que pode forçá-los a se separar. O poder da escrita se encontra na habitual capacidade de Furtado de criar diálogos com falas que são comuns para todos misturadas a frases que desenvolvem a história. Em meio a isso, coloca cenas intimistas em que os personagens refletem sobre suas condições ao mesmo tempo em que vivem um momento normalmente, com bom humor para esconder melancolia.

cena-do-filme-boa-sorte-de-carolina-jabor-com-deborah-secco-e-joao-pedro-zappa-1406068689720_615x470 Dança nos corredores. Jeito diferente de compreender o mundo.

Carolina Jabor revela um grande domínio técnico em sua estreia como diretora. Aproveita que seus cenários se reduzem a um hospital relativamente esquecido pela maioria das pessoas para usar pinturas de parede descolando, piscinas sujas e muitas cores em tons pastéis. A decadência do lugar reflete a decadência mental de seus residentes. Porém, Judite e João quebram a monotonia de cores sempre usando saturações fortes. Ele com azul, tão escuro que se aproxima do preto, que revela que o garoto está envolvido com um certo tipo de luto. Ela com cores quentes, como o vermelho e o laranja, que expressam uma vivacidade que contrasta com sua morte iminente.
Nas cenas que mergulham nos pontos de vista dos hóspedes do sanatório, a câmera usa grandes angulares para distorcer as imagens, tal qual a visão de mundo deles é distorcida. Nestes momentos, a trilha abaixa os volumes de sons ambientes para acompanhar a percepção subjetiva. Se escutam uma música, o som do filme é tomado pela melodia e os ruídos ficam abafados. Ao representar os momentos de maior sobriedade, os ângulos ficam mais fechados e possuem baixa profundidade de foco. O espectador tem limitação de visão, assim como os personagens têm limitação de percepção.

montenegro Fernanda Montenegro como a avó e Deborah Secco. Relações familiares complexas.

Deborah Secco é apaixonada pelo material original e tentou comprar os direitos autorais para adaptá-lo para o cinema. Quando descobriu o envolvimento de Jabor, conseguiu convencer a diretora de que poderia encarnar Judite. Para tomar o papel, emagreceu 11 quilos e abriu mão de maquiagens, o que deixa seu rosto com traços cadavéricos e olhos injetados. Mas a interpretação da atriz vai além do físico, Secco esconde por trás do humor de Judite uma tristeza torturante. O garoto, João Pedro Zappa, é muito bom como o adolescente descobrindo o primeiro amor. Quando precisa se aprofundar em uma imagem mais madura, ele não dá conta do recado. O resto do elenco de apoio conta com nomes como Fernanda Montenegro, Cássia Kis, Felipe Camargo e Edmilson Barros, todos muito bem em cena.
Mais que um filme de hospício, um drama sobre descoberta do amor adolescente ou um drama crítico, Boa Sorte é um filme com sutileza em suas partes mais dramáticas e humor na hora de fazer comentários sociais.
 
GERÔNIMOOOOOOO…

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