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Bill & Ted: Uma Aventura Fantástica (1989)

Anarquia com comédia é uma combinação que a história do cinema, do teatro e da literatura já comprovou que funciona muito bem. Em grande parte porque o humor permite a quebra de certas barreiras. No cinema, gera rupturas como a dupla Bill (Alex Winter) e Ted (Keanu Reeves) que extrapolam as barreiras das narrativas em que existem.

De tão ignorantes, não conseguem compreender as realidades em que habitam. Ensaiam na banda de duas pessoas deles, mas não sabem tocar instrumentos. Prestes a reprovar em História, os dois são resgatados por Rufus (George Carlin). Ele lhes concede uma máquina do tempo para que estudem com pessoas e acontecimentos históricos.

O filme é do fim da década de 1980, e acompanha dois jovens que carregam a estética da época. Roupas muito coloridas, cheias de estampas, rock do estilo metal que se tornou muito reconhecido no Brasil como música de sessão da tarde, e falta de perspectiva de vida. Mas a graça está justamente no contraste entre esse mundo “vazio” com momentos importantes e “profundos”.

Estética oitentista

Na parte técnica, o diretor Stephen Herek não escapa dos padrões do período. Luzes duras, cenários claramente feitos em estúdio, músicas com sintetizadores aliadas com os rocks de então, casacos coloridos amarrados em cinturas, calças dobradas até parecerem bermudões e muitas cenas cômicas que nem se esforçam em esconder que são interpretadas.

Quando Bill e Ted chegam no período medieval, é quando essas características ficam mais fortes. O interior de um castelo é cheio de objetos que parecem de isopor, as luzes duras enchem as paredes de sombras e personagens entram em cena sem esconder que os atores esperavam a deixa para aparecer.

Bobagem anárquica

Apesar da artificialidade, tudo isso dialoga com a falta de seriedade da produção. Bill & Ted é, no fim das contas, uma comédia que ri de si mesma. Com isso, também ri das coisas sérias que representa. Naquela mesma anarquia que permite ao Deadpool conversar com o espectador, ou aos Gremlins atrapalharem a projeção do próprio filme.

Então, é hilário ver Ted aparecer para Joana D’Arc como um emissor dos céus. Ou o Beethoven se fascinar com rock e teclados elétricos. Ou o Gengis Khan descobrir os prazeres da violência nos esportes modernos. Ou até o Sócrates se revelar um possível bully.

Melhor ainda é ver os dois protagonistas, apesar de tolos, carregarem uma filosofia pessoal de gentileza: “sejam excelentes uns com os outros”. Que dialoga em algum nível com todos os personagens históricos que conhecem. Nada melhor que ver a banda Scorpions ser mencionada para Sócrates e ter a percepção de que o berço da filosofia reverbera na cultura popular.

Até o clímax absurdo em que um bando de adolescentes reage a discursos chatos como se estivessem em um show de rock evoca o quanto esse filme é anárquico e bobo. Remete muito a outras coisas da mesma época, como Beavis and Butthead e Quanto Mais Idiota Melhor.

O primeiro Bill & Ted é um filme que poderia ser descrito como besteirol. Mas entre tanta besteira, há humor contemplativo e inteligente. E, felizmente, tudo acaba com menos de 90 minutos divertidos e rápidos.

Bill e Ted: Uma Aventura Fantástica 1989

Prós

  • Tom absurdo condiz com o humor anárquico
  • Sacadas espertas fazem esquecer do roteiro sem sentido

Contra

  • Exagero de características do período datam o filme
  • Algumas piadas típicas da época revelam preconceitos que não são mais aceitos

1 comentário em “Bill & Ted: Uma Aventura Fantástica (1989)

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