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Azul é a Cor mais Quente

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Assistir a Azul é a Cor mais Quente não é fácil. Longo, repleto de polêmicas e propositalmente lento, o filme roubou as atenções do último Festival de Cannes e levantou muitas polêmicas. Fica óbvio muito antes do início da sessão, não é um filme para todos. Justamente por isso surpreendeu ter levado o prêmio do júri presidido por ninguém menos que o Steven Spielberg.

O filme acompanha parte da vida de Adèle. A história começa com suas descobertas sobre amor e sexualidade na adolescência indo até sua maturidade. Parece simples, e de certa forma é, mas todo este ciclo é repleto de eventos e conflitos extremamente complexos. A simplicidade vem do quão rotineiras são as situações. A complexidade é resultado dos sentimentos confusos e potentes relacionados com os eventos.

O filme é adaptação de uma graphic novel francesa de mesmo nome. A ideia é acompanhar com sinceridade um romance entre duas mulheres. Sem floreios, o amor entre as duas protagonistas é tão comum quanto o de qualquer outro casal.

Em um mundo onde os homossexuais são retratados por atores que são, eles próprios, preconceituosos, (tem um certo sucesso nacional que é ridículo, mas prefiro não citar nomes) ver um filme que os trata como pessoas é um respiro de alívio e respeito.

Melhor ainda, seguindo o caminho contrário de filmes sobre esse universo, Azul é a Cor mais Quente não tenta ser uma propaganda política. Existe apenas uma cena que tenta expor o preconceito. Ela passa rápido e não é exagerada, apesar de só um pouquinho maniqueísta. Ainda ganha mais pontos por mostrar que existe um mundo mais receptivo do que odioso para aquele relacionamento.

Adèle começa como uma adolescente que descobre uma oportunidade para um relacionamento com um garoto mais velho. Após explorar ao máximo esse caminho, ela se pega desesperada e solitária. Não consegue entender porque não curte as relações com o sexo oposto nem porque não gosta tanto do parceiro quanto quer.

Adèle tentando se descobrir na adolescência.
Adèle tentando se descobrir na adolescência.

Depois de muito choro e sofrimento, percebe por acidente que beijar uma garota é mais estimulante e satisfatório. Pouco a pouco, ela vai se apaixonando por uma recém conhecida mais velha, com quem vai aprender amor sincero e completude sexual.

Surge então a famosa cena de sete minutos de sexo explícito. Apesar das polêmicas, ela não é feita para ser incômoda, por mais chocante que seja. Depois de vermos o desenvolvimento lento e simpático do relacionamento entre Adèle e Emma, quando as duas se relacionam, parece apenas natural e belo. Sendo que, mesmo explícito, o sexo não é expositivo. O espectador não verá pernas arreganhadas e closes em genitálias. Tudo é apenas natural.

Depois dessa primeira metade mostrando o início do relacionamento, vem uma segunda metade focada em como a rotina afeta o amor e o companheirismo. É quando o diretor Abdelatif Kechiche deixa o filme mais lento. É extremamente cansativo e longo a partir desse ponto. Mas é de propósito.

Kechiche nos faz sentir o tédio da rotina e da solidão que surgem daí em diante através do ritmo. Por conta disso, o filme fica mais longo, fechando com três horas de duração. Lembrando bastante filmes como Amor e Um Alguém Apaixonado, o término da sessão está cheio de espectadores cansados.

A fotografia e a arte exploram bastante a cor azul para ambientar os pontos de sentimentos de Adèle. Principalmente porque sua descoberta do amor se dá com uma mulher de cabelos, olhos e vestimentas azuis. A garota que mais a antagoniza, por outro lado, tem cabelos vermelhos.

Léa Seydoux e seus belíssimos olhos azuis.
Léa Seydoux e seus belíssimos olhos azuis.

Para que o azul ganhe tanta intensidade, a fotografia estoura os brancos, fazendo com que o azul de saturação baixa da arte pareça mais vivo. Enquanto o vermelho, sempre em tons mais escuros, fica quase mórbido.

O mais impressionante, entretanto, são as atrizes em cena. Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux esbanjam melancolia e carinho sem ser exageradas. Quando tem seus momentos mais íntimos são um poço de sensualidade e sensações. Léa ganhou um merecido prêmio em Cannes por sua interpretação como Emma, mas eu gostei muito mais de Adèle. Ela passa por todos os espectros de sentimentos em um relacionamento despertando muita simpatia.

As duas ainda ganham muito com o estilo de direção de Kechiche. Ele acredita que a melhor forma de contar uma história em cinema é deixar os atores levarem tudo adiante. Para isso, coloca closes atrás de closes e deixa que elas brilhem. Brilhar entre aspas, porque uma das grandes polêmicas relacionadas ao filme é que elas sofreram muito maltrato por parte dele durante a produção.

Recomendadíssimo, principalmente para quem tiver a paciência para enfrentar três horas de um filme mais difícil.

 

GERÔNIMOOOOOOOOOO…

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