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A luta feminista pelo sufrágio universal (As Sufragistas – 2015)

As Sufragistas

Após anos de pacifismo, as mulheres do Reino Unido ainda não conquistaram o direito de voto. Na Londres de 1912, durante o reinado de George V, um grupo de mulheres sufragistas passa a explodir caixas de correio e quebrar vitrines para atrair a atenção do governo em prol da causa. Maud Watts, operária de uma lavanderia desde a infância, envolve-se com o movimento e começa a participar das ações coordenadas por ele.

O filme As Sufragistas apresenta mulheres na direção e no roteiro: Sarah Gavron e Abi Morgan, respectivamente. A roteirista é vencedora de um Emmy (2013) pela série The Hour, criada por ela. Carey Mulligan, Helena Bonham Carter, Anne-Marie Duff, Natalie Press e Romola Garai fazem parte do elenco predominantemente feminino, que também conta com a participação especial de Meryl Streep. Nos papéis masculinos, destacam-se Ben Whishaw, Brendan Gleeson e Geoff Bell.

“Se você quer que eu respeite a lei, faça a lei respeitável”, diz Violet Miller, personagem de Anne-Marie Duff. Essa é uma das diversas frases impactantes presentes no filme feminista, que apresenta vários slogans propagados no século XX. A citação, juntamente ao lema do movimento, “Ações, não palavras”, traduzem parte da essência de As Sufragistas.

Maud Watts trabalha em uma lavanderia e possui engajamento político escasso. Após ter contato com outra operária, Violett Miller (Duff), ela conhece o movimento e se envolve com um grupo de mulheres sufragistas de East London, que tem como líder Emmeline Pankhurst (Streep). Edith Ellyn (Bonham Carter) e Emily Davison também fazem parte dele. Em consequência desse envolvimento, é repudiada pelo próprio marido, Sonny (Whishaw), com quem tem um filho pequeno.

MulliganCarey Mulligan em cena. União para o avanço.

O filme mostra a luta feminista por direitos mais equânimes, com foco no poder de voto. Por praticarem militância, muitas mulheres eram enviadas para prisão. As Sufragistas retrata um pouco de como era o sistema carcerário da época e como as integrantes em prol do sufrágio feminino lidavam com ele. Como forma de protesto, várias faziam greve de fome. Para refletir o estado que se encontravam após saírem do encarceramento, foi feito um bom trabalho de maquiagem.

Para quem almeja assistir As Sufragistas devido à presença de Meryl Streep, saiba que ela faz uma participação curta. Ela interpreta Pankhurst, líder do movimento, que está foragida da polícia londrina. Mesmo com os poucos minutos de aparição nas telas, a atriz, como de costume, faz uma interpretação ótima e marcante, que garante a atenção do público.

Várias personagens do filme são baseadas em pessoas reais. Emmeline Pankhurst, interpretada por Meryl Streep, realmente existiu e foi a fundadora do Women’s Social and Political Union (WSPU), principal organização britânica militante em prol do sufrágio feminino. Apesar da pequena aparição que teve no longa-metragem, foi uma das mais importantes vozes da luta. Deu discursos encorajadores de cunho feminista e incentivou várias mulheres a militarem, o que a levou 13 vezes para a prisão. Emily Davison (Press) também existiu e participou de ações de grande impacto. Ela fez parte do WSPU e foi presa 9 vezes pela militância que exerceu.

Helena Bonham CarterHelena Bonham Carter. Inspirada em mais de uma pessoa real.

Maud Watts é fictícia e inspirada em Hannah Mitchell, empregada doméstica e costureira, que fez parte do WSPU. Já a personagem de Helena Bonham Carter, Edith Ellyn, e o marido foram inspirados no casal Barbara e Gerald Gould, ambos apoiadores da causa. A mulher farmacêutica foi uma das principais organizadoras do sindicato encabeçado por Pankhurst. Mas não foi só nela que Ellyn foi baseada. A intérprete conta que encontrou inspiração em Edith Garrud, que ensinou jiu-jitsu às mulheres do movimento, como forma de defesa, e organizou uma força protetora para as líderes sufragistas.

As Sufragistas retrata uma imprensa machista, que vai contra movimentos sociais. Uma mídia que funciona em prol dos interesses da elite e que contribui na perpetuação de sistemas opressores. É uma realidade que, infelizmente, ainda é contemporânea: às vezes, para conseguir atenção adequada dos meios de comunicação, é preciso ter atitudes extremas.

Carey Mulligan realmente se entrega à personagem e obtém um ótimo resultado. Helena Bonham Carter e Anne-Marie Duff não ficam para trás. E Meryl Streep, apesar da pequena participação, realiza mais um papel com maestria. O lindo figurino, assinado por Jane Petrie, acerta na representação da vivência no início do século XX.

No cenário contemporâneo, temas relacionados a gênero viraram pauta no país. Em um ano de diversas manifestações políticas, não só relacionadas a movimentos sociais (até mesmo pró-golpe militar), um filme como esse surge em boa hora. Ele ajuda a ter uma maior compreensão de questões feministas, além de uma importante parte da história do feminismo, e passa no teste de Bechdel. Pessoas que criticaram o filme, sem nem ao menos vê-lo, surgiram nas redes sociais, devido ao assunto abordado. Por esse e vários outros motivos, é de grande relevância que o público, independente do gênero, assista e reflita sobre esse tema que permanece atual na sociedade. Produções que tratam sobre a equidade feminina são de suma importância, e ajudam a dar atenção a esse assunto extremamente necessário de ser abordado.

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