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Ao 11º Doutor, um Adeus

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Acabou. Assim, como tudo na vida, o décimo primeiro doutor passou adiante. E como bem disse um personagem uma vez, não lamentemos sua passagem, celebremos sua vida. Afinal, se não fosse a maravilhosa vida antes de tudo, não ficaríamos tristes com a despedida.

Esse seria um texto sobre o episódio The Time of the Doctor, mas quanto mais pensava sobre o que o episódio significava e o que teria para dizer, percebi que o texto seria meu adeus a Matt Smith e seu Doutor.

Durante a quarta temporada da série, David Tennant e Russell T. Davies estavam saindo e preparando o terreno para que Stephen Moffat e Smith tomassem conta. No episódio que Moffat roteirizou então, já dava um primeiro passo no que viria a ser a jornada do décimo primeiro doutor.

Durante essa jornada, muitos comentaram as mesmas coisas, inclusive eu. Moffat parecia ter esquecido diversas pontas que deixou soltas desde o começo. Agora, com esse episódio Time of the Doctor, descobrimos que era tudo parte do plano. E palmas de pé para o diretor criativo da série.

Moffat tomou controle da série com um ciclo bem específico em mente. Contar a história do décimo primeiro doutor, desde sua regeneração de origem até seu adeus. O primeiro rosto que ele vê é importante para que o ciclo venha a se fechar, a primeira trama, toda a vida da sua primeira companion, todas as tramas principais de cada temporada.

Começou com uma menina que esperou. Amelia Pond conheceu o Doutor ainda criança e a exposição que sofreu a uma rachadura na existência lhe deu o poder de lembrar de coisas que foram apagadas da própria. Por isso mesmo, ela foi fundamental para que a quinta temporada fizesse sentido. Amy lembrou do namorado apagado do universo e assim, salvou tudo o que existe.

Eventualmente, Amy é relacionada com o Silêncio, com a River Song e tudo o que foi importante para a vida do Doutor do Matt Smith. Seu esposo também foi companion, um dos melhores. Sua filha foi utilizada para matar o herói e eventualmente se casou com ele. Não é à toa que ela é quem vem dar boa noite para que seu homem maltrapilho vá embora.

Com Amy, Rory (o esposo) e River Song (filha de Amy e esposa do Doutor) o personagem impediu sua Tardis de destruir o tempo e o espaço. Com os três, derrotou os monstros do Silêncio e enganou a morte. E quando os três se despediram, sofremos junto com ele.

River Song, Rory Williams, o Doutor e Amy Pond. A "família" do Doutor?
River Song, Rory Williams, o Doutor e Amy Pond. A “família” do Doutor?

Depois deles, surgiu Clara. Ou Oswin Oswald, como ele a conhece pela primeira vez. Clara aparece como um Dalek e morre salvando o Doutor e seus companions. Depois ela reaparece como uma babá do passado que morre dando motivação para sua vida. Eventualmente seu mistério é resolvido com um Deus Ex Machina muito mal elaborado, apesar de também ser emocionante e significativo.

Clara, a garota impossível. Substituta de Amy?
Clara, a garota impossível.

Porém, antes de Clara, tivemos um agente da CIA da década de 1960, Canton Delaware, que ajudou o grupo a derrotar o Silêncio. Interpretado por Mark Shepard, o personagem ganhou destaque e entrou temporariamente para o grupo porque foi o único dentre a agência que demonstrou ter a mente aberta para os mistérios que o Doutor pretendia responder. Ele foi um desses companions temporários que deixam uma marca.

Mark Shepard. O agente americano que se mostrou digno da companhia britânica.
Mark Shepard. Seu agente americano se mostrou digno da companhia britânica.

Se Canton deixou uma marca, Craig Owens foi ainda mais profundo. Um típico inglês de classe média, o rechonchudo e simpático inquilino alugou um quarto para o Doutor por um tempo. Sem grande destaque na vida, ele foi muito eficaz como companion por ter dado noção de humanidade ao Doutor.

Craig Owens, pouco importante, mas extremamente humano.
Craig Owens, pouco importante, mas extremamente humano.

Owens foi o humano que resistiu à doutrinação dos Cybermen e provou mais uma vez o valor de nossa ínfima espécie. Isso mesmo, o personagem do ator de Matadores de Vampiras Lésbicas foi um dos mais interessantes e divertidos a participar das aventuras do Matt Smith. Principalmente por conta do beijo gay entre os dois e a sugestão de bissexualidade do personagem.

Impossível não lembrar também de Madame Vastra, sua esposa Jenny e seu amigo Strax. O estranho trio forma uma família entre três espécies diferentes. Duas da Terra, mas ainda de espécies distintas. Eles vem de culturas diferentes e tem pontos de vistas contrários. Isso não os impede de respeitarem um ao outro e de conviverem em paz.

Vastra, Jenny e Strax. A diferença não impede a união.
Vastra, Jenny e Strax. As diferenças não impedem a união.

Vastra e Jenny, em especial, ganham destaque por possuírem um relacionamento não apenas homossexual, mas interespécies. Mesmo que sem nenhuma demonstração de afeto durante as cenas.

Mas se estamos falando de companions que deixaram uma impressão forte. Vamos falar da grande companion do Doutor. A que o acompanha desde que começou suas aventuras em sua primeira encarnação. A companion que ele roubou. Ninguém menos que a Tardis.

A Tardis encarnada em um corpo. A primeira e última companion.
A Tardis encarnada em um corpo. A primeira e última companion.

Em certo ponto da sexta temporada. O roteirista convidado, Neil Gaiman, deu de presente para o Doutor a presença da Tardis no corpo de uma mulher. Assim, de repente, os dois tiveram como declarar diretamente o valor de um para o outro. Ele a chamando de sexy, ela o chamando de ladrão.

Este, por sinal, não foi o único episódio escrito por Gaiman com o Matt Smith. Depois o autor voltou à série com um episódio excepcional sobre os Cybermen. Mas ele não foi o único escritor de luxo. Na quinta temporada o diretor de cinema Richard Curtis juntou o Doutor ao Vincent Van Gogh em um dos melhores episódios de toda a série.

Richard Curtis, Stephen Moffat e Neil Gaiman com um roteiro na mão.
Richard Curtis, Stephen Moffat e Neil Gaiman com um roteiro na mão.

Foram três temporadas cheias de triunfos, tragédias e tristezas. O ciclo de Moffat chegou ao final cheio de tristeza. Respondendo tudo. Porque a Tardis explodiu na quinta temporada, o que era a igreja do Silêncio, porque transformar a River Song em uma máquina de matar, porque a rachadura é importante, o que era o Silêncio que viria a cair e qual a origem da pergunta mais antiga do universo.

Um único problema com tudo isso. Foi muita coisa sendo tratada de uma única vez no episódio de despedida de um dos Doutores mais queridos. O episódio ficou corrido, mal dirigido e mal montado. É fraco, mas ainda funciona muito bem.

O episódio é sobre a vida do décimo primeiro. O que ele é e a que ele serve. Não é a ideia errada, mas a concepção ficou estranha. Colocá-lo vivendo seiscentos anos naquela cidade deu apenas a impressão de que perdemos muita coisa interessante sobre ele.

Felizmente temos uma última cena com a despedida. Ele lamenta ter que ir e reitera com alegria o valor de sua passagem. Se não fossem todos esses momentos ótimos, a ida não seria tão significativa. Como ele próprio diz, nós nunca esqueceremos quando o Doutor foi o Matt Smith.

Deixo aqui o making of do episódio. Recomendo pular para o minuto 8 e deixar que o Matt Smith e o Stephen Moffat falem um pouco sobre a ida do ator e de sua versão. [youtube=http://www.youtube.com/watch?v=JgE1dkJanEc]

Depois de tudo isso, sobrou apenas uma pergunta: Alguém por acaso sabe como se dirige essa coisa?

 

GERÔNIMOOOOOOOO…

1 comentário em “Ao 11º Doutor, um Adeus

  1. Olá! Nem sei por onde começar. Após ler esse incrível texto, fiquei realmente emocionado ao lembrar dos melhores momentos do Eleven… Antes de ler eu já achava ele incrível, porém após ler, percebi que ele foi muito melhor do que eu lembrava. Ele realmente formou uma família. Podemos até dizer que ele foi um verdadeiro professor. Nos ensinou a amar, a respeitar. Nos ensinou que todos somos importantes, que devemos lutar pelo que queremos, lutar por quem amamos. Enfim… Adeus Matt Smith… Adeus Eleven…

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