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Águas Rasas (The Shallows – 2016)

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Filmes de tubarão não são novidades desde o famoso dirigido pelo Steven Spielberg. Existe uma razão para esses peixes participarem do imaginário popular. A água já não é o ambiente mais convidativo para humanos, com um ser que nada rápido e mata ao puxar para baixo, o oceano se torna aterrorizante. Por algum motivo, é possível contar nos dedos os bons filmes com essas criaturas.

A tentativa do diretor espanhol Jaume Collet-Serra faz uma abordagem minimalista. Ao invés de embarcações contra um peixe ou pessoas em desespero na praia, grande parte de Águas Rasas se passa com a protagonista, Nancy (Blake Lively), ferida em um pedaço pequeno de rocha contra um tubarão branco gigante que saiu da área de caça normal dele.

Não é preciso muita coisa para se trabalhar bem o suspense. A estudante de medicina não tem como sair de um espaço apertado e tem um tempo limite para escapar da pequena ilha de pedra onde se acolheu antes que a maré alta chegue. Para lembrar que o peixe é perigoso, basta olhar para o corte enorme que ele deixou na perna dela enquanto ela surfava inocentemente na praia. Nem é preciso muita trama. Um leve contexto de reencontrar conexão com a mãe falecida não é suficiente para chamar de história. O filme é bem simples e direto: nos pouco mais de 80 minutos, a ideia é ver essa mulher tentar sobreviver àquele perigo natural.

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Conflito simples e eficiente. Ela na ilha e o tubarão na água.

O roteirista Anthony Jaswinski é bem direto. Começa com a chegada de Nancy à praia onde ela vai lutar pela sobrevivência. Rapidamente é estabelecido por que ela está sozinha, como é o espaço fechado e a localização de cada peça importante para a história. Os moradores da região, as capacidades dela com medicina, os inúmeros brincos e piercings que ela carrega na orelha e até as gaivotas que voam na área. Então, cada momento de tensão engrandece o desenvolvimento.

Nancy precisa encontrar soluções para cada problema que aparece aos poucos. Desde a exposição ao sol, a presença de corais nas proximidades, uma baleia morta que libera óleo na água até a capacidade do peixe antagonista de comer pedaços de metal. E o mais interessante, quanto mais o tubarão a acua, mais monstruoso e odiável ele se torna. Essa escalada progressiva faz com que momentos rápidos de sobrevivência compreensíveis deem lugar para ação cada vez mais rápida e exagerada. Mas como a construção é cuidadosa e lenta, tudo é crível. Até o último momento de ação, que é grandioso o suficiente para dar aquela última empolgada com pulo da cadeira.

Collet-Serra, junto com o diretor de fotografia Flavio Martínez Labiano, filma com enquadramentos belos e úteis. A praia onde a ação se passa é fotografada com planos distantes, que aproveitam as texturas diferentes e ricas da água e da areia. Ao mesmo tempo, Lively fica diminuta. Torna compreensível que ela é pequena em relação ao espaço da trama, o posicionamento da costa, da rocha onde ela fica ilhada, de uma boia de sinalização que é importante para o clímax. E também é importante porque o local é de um beleza que é importante tanto para a ida dela até lá quanto para as motivações pessoais, por mais que sejam superficiais.

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Boia 42. Ação escala para que o exagero pareça verossímil.

Um dos melhores momentos, em termos de fotografia, são as cenas de surfe antes do primeiro ataque. Ao invés de fazer uma montagem com cortes das melhores manobras, Serra constrói desde a chegada à praia, passa pela passagem pelas ondas até a prática entre enquadramentos aéreos que revelam a beleza do lugar. Tomadas na altura da superfície fazem com que o espectador se sinta no momento. Mais importante, por mais que a emoção seja positiva e a música vibrante, sempre que a câmera passa para baixo d’água o som fica abafado. Aumenta a verossimilhança do momento e também faz com que o espaço abaixo da superfície soe perigoso.

Ver boas interpretações da Blake Lively é algo que está cada vez menos surpreendente. Apesar do início de carreira duvidoso com Gossip Girl (mais por conta do projeto que pela atriz), três dos quatro grandes papéis dela no cinema são de interpretações excepcionais. Desde Atração Perigosa, com passagem por A Incrível História de Adaline e agora este Águas Rasas, ela se provou uma intérprete de grande escalão. Que faça mais sucesso em papéis de destaque.

Não é apenas mais uma cópia de Tubarão ou um filme ineficiente sobre as criaturas aquáticas. Águas Rasas se sustenta muito bem como um bom e rápido suspense. Tem uma ótima fotografia e um bom casamento de montagem com design de som. Merece ser visto em um tela grande, onde todo o esplendor visual pode ser contemplado.

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