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Abaixando a Máquina

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Em determinado ponto de Antes do Pôr-do-Sol, a personagem Celine admite estar em um relacionamento com um fotógrafo de guerra que vive viajando. Daí ela e Jesse discutem sobre a profissão e terminam esta conversa afirmando que compreendem a importância, mas acham que ser um desses fotógrafos envolve uma frieza cruel e inumana. Numa discussão parece bobo, mas seguindo a rotina de fotojornalistas no Rio de Janeiro, a realidade é um pouco mais chocante.

O documentário Abaixando a Máquina mostra algumas entrevistas com fotojornalistas do Rio de Janeiro que vivem tirando fotos do mundo de violência da cidade. O foco das entrevistas são as questões éticas que constantemente surgem na hora de tirarem fotos de situações de emergência durante o trabalho.
Para tratar do tema, os diretores Guillermo Planel e Renato de Paula entrevistam alguns dos grandes nomes da área na cidade. São campeões de prêmios de fotografia, jornalistas de grandes veículos do Rio, professores de fotojornalismo, repórteres e outros. Cada um vai contando as diversas situações complexas em que já se encontraram enquanto trabalhavam e um pouco sobre suas visões pessoais do que é certo ou errado na carreira.
Não existe uma linha de raciocínio lógico na condução deste documentário. Cada trecho mostra os fotógrafos contando suas histórias ilustradas pelas fotos e por algumas imagens feitas pelos cinegrafistas acompanhando a rotina de alguns deles. Se as histórias e os relatos não são o suficiente para chocar, basta olhar as fotos e os vídeos dos fotógrafos e dos cineastas fugindo de tiroteios e se jogando no chão enquanto policiais e cidadãos correm ao seu redor para notar o peso daquele trabalho.
As conversas acompanham diversos assuntos. Religião, a preocupação com os outros, a hora de parar de tirar fotos em respeito aos fotografados, a hora de parar de tirar fotos para salvar uma vida. Talvez o questionamento mais complicado seja a valorização do trabalho. O que eles fazem é realmente útil ou é uma forma de ganhar em cima da desgraça alheia? A descrição do emprego envolve comunicar eventos para a população. A ideia é informar para os problemas nas ruas para que a sociedade melhore. Mas eles basicamente ganham dinheiro da exploração de imagem de pessoas sofrendo. Às vezes até são razão para que o sofrimento aumente ou se torne constrangedor.
Cada um dos entrevistados tem uma visão sobre o comportamento moral apropriado diferente. As opiniões não se sobrepõem, apenas são expostas separadamente. Não há resposta correta. O que existe é uma sensação clara de que alguns comportamentos parecem errados com alguma frequência. As situações merecem a discussão entre quem assiste ao filme.
Caso queira assistir, prepare-se para se chocar com muitos momentos que vão do perturbador para o terrivelmente triste. E lembre-se, não julgue essas pessoas. Neste caso, ninguém está certo, nem errado. Ao final, ficou a certeza de que eu certamente não quero trabalhar com fotojornalismo.
 
ALLONS-YYYYYYYYYYY…

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