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A Viagem.

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A Viagem é um filme com muitos problemas, alguns bem grandes. Mas tenho que dizer que o pior foi o cidadão sentado atrás de mim fazendo comentários homofóbicos sempre que os personagens gays apareciam na tela. Principalmente quando se está vendo um filme que tem como um de seus temas principais o preconceito.

Depois do primeiro trailer de mais de cinco minutos, fiquei biruta. O amontoado de frases existencialistas, imagens esplendorosas e trilhas edificantes me vendeu o filme. Parecia uma proposta interessante. Seis histórias em épocas diferentes com personagens diferentes. Os atores principais se repetem através das histórias tranformando-se entre elas, sugerindo uma ideia de reencarnação (que eu imagino que não existe no livro). Os temas se repetem através das histórias e as ações em uma época se refletem na próxima.
É extremamente ambicioso, com uma escala gigantesca. Normalmente não funciona, ou pelo menos fica recheado de defeitos. A Viagem não é exceção. Foge da estrutura do livro que lhe serviu de origem. Enquanto na obra original as histórias são contadas pela metade, pulando de uma para a outra através dos textos que pulam de um personagem para o próximo, seguindo em ordem cronológica. O filme monta todas as histórias em paralelo, cada uma chegando ao clímax junto das outras. Lembrou bastante o clássico Ignorância, do Griffith.
Mas a montagem é rápida, e troca entre as histórias nos momentos de tensão. Quando muda de época, não deixa perdido. E várias dessas mudanças são ligadas em momentos parecidos. Sejam momentos tensos, dramáticos ou até cômicos. Em ordem cronológica, a primeira história é a de um advogado escravocrata moribundo dentro de um navio mercante. A segunda acompanha a busca de um compositor iniciante de 1936 tentando criar sua grande obra. A terceira mostra uma jornalista tentando descobrir a verdade por trás da morte de um estranho que conheceu num elevador. A quarta vem para tempos modernos com um editor literário trambiqueiro. A quinta vai para a Coréia em 2144 para revelar uma humana gerada através de manipulação genética descobrindo sua própria existência. E a última é pós-apocalíptica e apresenta um homem primitivo em uma busca com uma mulher mais civilizada.
Se o parágrafo anterior ficou grande, imagina um filme com todas essas sinopses. A Viagem fica a menos de dez minutos de passar de três horas de duração. É muito extenso. Demora pra engatar porque a ambientação é uma maluquice. Cada história começa com cenas aceleradas, algumas com muita violência explícita apresentadas de uma vez. Numa delas um personagem é jogado de um prédio. A câmera acompanha toda a queda até o impacto com o chão, com direito a restos e sangue voando pelo cenário.
É muito rápido e sem construção nenhuma. A violência passa como se fosse nada e algumas vezes acaba ficando plástica demais, quase irreal. Eventualmente, com a montagem bem ritmada, esse defeito fica pra trás porque acabamos entrando naquela ambientação. Principalmente com a incrível direção de arte.
A única coisa que pode ser contestada é a maquiagem. Por mais bem feita que seja, em alguns momentos eles tentam ir longe demais e pára de funcionar. Principalmente quando atores mudam de sexo ou quando os ocidentais interpretam orientais e vice-versa. Mas de vez em quando funciona, como com a mudança de cor da Halle Berry, que funciona na maior parte das cenas. De resto, os cenários, figurinos, construção das épocas, é tudo perfeito.
Os atores se esforçam bastante e carregam o filme nas costas, inclusive o Hugh Grant, que não interpreta um mocinho sequer. O que incomoda um pouco. Quase todos os atores interpretam de vilões a mocinhos, passando por secundários e até partes de fotografias. Com exceção do Hugh Grant e do Hugo Weaving. Todos os personagens desses dois são vilões.
O filme é basicamente um extensão do trailer. Grandes frases significativas e existenciais. Muitos temas transcendentais. Tudo misturado nessas histórias. Mas com quase três horas de duração. Fica longo e repetitivo demais. Lá pelo meio identifiquei os temas e as mensagens principais, logo imaginei que o filme já deveria estar acabando. Aproximadamente uma hora depois os créditos começaram a rolar. Essa hora final fica repetindo as mensagens e pesando, cansando.
É bonito, funciona até certo nível, mas cansa. As mensagens envolvem reflexões sobre destino, controle da própria vida, preconceito, divisões sociais e esperança.
Tinha gente xingando e gente chorando na sessão em que assisti. Sou capaz de compreender todos eles, com exceção do indivíduo gritando expressões homofóbicas.
Para os atentos, prestem atenção à referência hilária para Soylent Green. E depois uma retomada ao tema quando um personagem descobre uma reviravolta semelhante ao final do filme de 1973.
 
GERÔNIMOOOOOOO…

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