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A Vastidão da Noite (The Vast of Night – 2019)

Na era em que a mídia que mais chama a atenção e cresce é o podcast, este A Vastidão da Noite tem o tom mais que apropriado. Mesmo que seja um filme de estética retrô, com temas típicos da década de 1950 e que remeta a programas televisivos como Além da Imaginação, Amazing Stories, A Quinta Dimensão, Alfred Hitchcock Apresenta e Galeria do Terror.

Isso porque A Vastidão da Noite se assemelha muito ao formato de podcast ao acompanhar Fay (Sierra McCormick) e Everett (Jake Horowitz) quando eles captam um ruído indefinível que causa interferência em rádios, telefones e até em sistemas elétricos. Ela é telefonista e ele, locutor de rádio em uma noite em que todo mundo da cidade pequena se concentrou no estádio local para uma partida de basquete.

Logo na abertura, que simula um programa de TV fictício chamado Teatro Paradoxo, o filme esclarece que será uma história que poderia passar em um daqueles seriados antigos. E o diretor, roteirista, produtor e editor do filme, Andrew Patterson, faz questão que isso seja verdade em todos os detalhes técnicos de A Vastidão da Noite.

A Vastidão da Noite é simples e complexo

É perceptível na trama, que remete à paranoia da Guerra Fria e dos alienígenas da época. Especialmente na perspectiva de Everett, que tem certeza até o fim do filme de que são os soviéticos que criaram a interferência. Porém, há o acréscimo de temas mais atuais. Em certo ponto do filme, é reconhecido o nível de racismo no período que representava o ápice do sonho americano.

É onde está a parte mais interessante de A Vastidão da Noite. Em uma explicação simples, o filme é uma sessão de diálogos e monólogos filmados. Como se fosse uma produção sobre os bastidores de uma rádio. Para ser mais específico, ele simula uma série de eventos em tempo real. Os personagens são apresentados em um diálogo longo, descobrem o mistério, conversam e investigam até a resolução.

a vastidão da noite

Mas há complexidade nos detalhes. Desde explicações no primeiro ato sobre personagens secundários que só aparecerão no meio do filme, até o nome da rádio em que Everett trabalha, WOTW (sigla para War of the Worlds, ou Guerra dos Mundos). Além disso, Patterson trabalha essas minúcias nas características técnicas.

Fay é, dos cabelos amarrados em um rabo de cavalo, passando pelos óculos de armação grossa, até o vestido longo, uma típica garota branca do interior dos Estados Unidos de 1950. A sensação é realçada pelos diálogos rápidos com sotaque sulista. É nas falas que o ritmo da produção é determinado e a forma como os atores as dizem é fundamental.

A fotografia usa ângulos baixos, iluminação fraca vinda de cima e grãos na imagem. Como se o filme fosse filmado com uma película velha e com holofotes antigos. Mas, tudo é modernizado de alguma forma. Seja em planos longos que atravessam a cidade, o que seria impossível antigamente, seja na forma como os dois personagens demonstram que não estão satisfeitos com o que os Estados Unidos reservam para eles.

Monólogos que prendem

Parecem só detalhes técnicos, mas essa abordagem é o que cria a atenção constante em A Vastidão da Noite. Os planos longos acompanham um ou mais personagens em cena, mas Patterson os filma como se uma revelação ocorresse. O momento que mais se destaca é um monólogo de uma senhora que conta sobre o próprio passado. É apenas um lento movimento de close, mas é hipnótico.

Isso não funcionaria se o elenco não fosse capaz de sustentar o texto. McCormick e Horowitz sustentam as características dos personagens. Ela é fascinada com ciência e mistérios, então é natural que queira seguir as pistas com paixão. Ele quer um furo para se tornar um nome grande suficiente para sair da cidade pequena.

a vastidão da noite

A cada novidade ou reviravolta, os dois observam com admiração e cuidado. Estão envolvidos na investigação da mesma forma que o espectador se deixa envolver. E os coadjuvantes que fazem monólogos Gail Cronauer e Bruce Davis colocam o peso certo nessas cenas de forma a manter até uma situação sem movimento tensa.

A Vastidão da Noite fecha como um grande filme barato de mistério e ficção científica. Pode-se dizer que não há nada de novo, mas a novidade está na inteligência com que Patterson filma algo clichê. Mistura conceitos e narrativas antiquadas para tratar de assuntos novos. Em certos momentos, parece um programa de rádio antigo, mas remete de verdade aos podcasts atuais.

A Vastidão da Noite

Prós

  • Complexidade escondida em estrutura simples
  • Técnica remete a ficções científicas de 1950
  • Diálogos bem escritos e filmados magistralmente

Contras

  • Por ser voltado a diálogos, pode ser cansativo

P.S.: O filme é da Amazon e é exclusivo do catálogo da Prime Video.

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