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A Outra Terra

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Tem bastante tempo que ouço falar sobre A Outra Terra. O que falavam sempre é que se trata de um filme de ficção científica no qual um dia uma outra Terra surge no céu. Com essa nova Terra começam algumas perguntas interessantes. Haverá pessoas lá? Elas são iguais a nós? Cometeram os mesmos erros? Isso é tudo o que sabia da história antes de assistir.

Além disso, tinha lido em uma lista de novos talentos do cinema o nome Brit Marling. Lá dizia que essa loira escreveu, produziu e estrelou A Outra Terra. Além disso, já fez outros dois roteiros e dirigiu seu próprio documentário. Mais importante, chamou a atenção de Hollywood e é uma estrela em ascensão, com três filmes em pós-produção e dois em pré.
Eu precisava ver esse filme.
Rhoda Williams é uma adolescente que acabou de sair da escola e conseguiu admissão no MIT, a famosa faculdade de tecnologia dos Estados Unidos. Rhoda é fascinada por astronomia. Depois da celebração de sua admissão, ela volta para casa dirigindo. No caminho, avisam da segunda Terra no rádio. Ao procurá-la no céu, Rhoda se distrai e causa um acidente.
Existe de fato um outro planeta que sempre existiu do outro lado do Sol e cujo qual é uma Terra idêntica a nossa. A Outra Terra é uma ficção científica, mas é muito mais que isso. Como uma boa ficção científica deve ser, a proposta científica serve de metáfora para um questionamento humano que nunca pode ser respondido graças às limitações da vida.
Rhoda tem várias preocupações durante o filme. O planeta nos céus é a menor delas. Ao mesmo tempo, o planeta é uma analogia para tudo o que acontece com a garota no filme. O acidente desencadeia uma série de eventos na vida dela que são uma trama bastante clichê. É sobre alguém com culpa sobre a tragédia de outra pessoa (clichê) e sobre duas pessoas perdidas que aprendem a superar seus problemas uma com a outra (clichê).

Brit Marling como Rhoda. Culpa e paz de espírito.
Brit Marling como Rhoda. Culpa e busca pela paz de espírito.

É tão clichê que os eventos chegam a ser previsíveis. Mesmo sabendo o que vai acontecer, a beleza está na forma como acontece e como é retratado. Sem contar que mesmo sabendo tudo o que acontece, o final é imprevisível. É mérito de um ótimo texto aliado a uma direção esperta.
A Outra Terra é quase um filme mudo. Toda a informação é passada através do visual. São takes inteligentes que acompanham o raciocínio de Rhoda a medida em que percebe o que acontece ao seu redor. Brinca bastante com o foco. Em um plano específico, não vemos Rhoda em foco. Ela está longe da câmera e um pacote de jujubas se encontra diante da lente. É claro que o pacote está em foco.
Não precisa mostrar a Rhoda ou de explicações maiores para ficar claro que ela está indo pegar o pacote. Em outras partes, principalmente quando a personagem está tensa ou nervosa, a lente fica perdendo o foco da Rhoda. Quando ela está calma, não a perde de vista.
Com o baixo orçamento, o diretor Mike Cahill, fez um filme com câmeras digitais. Normalmente elas são cheias de limitações de captura de luz. Ele não se perturba com isso. Muito pelo contrário, deixa takes enormes cheios de grãos, deturpações de cores e outros defeitos usuais dessas câmeras. O tom do filme fica fantasioso e contribui para a narrativa.
Isso é que é uma fotografia inteligente. Não precisa de equipamentos absurdos e equipe gigante para contar sua história de maneira visual.
A proposta é discutir as possibilidades de lidarmos com nossas culpas e nossos erros. O planeta no céu é uma chance de encontrarmos novas versões de nós mesmos. Talvez melhor, mais correta e com mais paz de espírito.
Uma reflexão inteligente, com um embasamento científico inteligente, direção inteligente e um roteiro inteligente. Fiquemos de olhos nessa tal de Brit Marling e nesse Mike Cahill.
 
ALLONS-YYYYYYYY…

1 comentário em “A Outra Terra

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