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O Melhor Lance

The Best Offer
“Toda falsificação possui alguma autenticidade”. Esse é o mote por trás deste novo filme do lendário Giuseppe Tornatore. Com um diretor qualquer, seria uma metáfora para a própria produção. Com Tornatore, é uma discussão sobre a personalidade falha de um homem deturpado pelo próprio distúrbio.

Virgil Oldman (Rush) é um leiloeiro de alta classe que sofre de Transtorno Obsessivo Compulsivo. Chamado para autenticar uma coleção de um casal que faleceu, ele descobre a herdeira. Uma mulher jovem chamada Claire (Hoeks) cuja existência irá mandar Oldman através de um mistério que o fará confrontar seu transtorno.
O foco do filme é basicamente a transformação de Oldman através do contato com Claire. Logo no começo, ele especifica que arte envolve mais do que técnica pura, mas também um certo nível de mistério. E mistério é o que o move para desvendar Claire. À princípio, as necessidades dela irritam seu estilo sistemático de vida. Mas, no momento em que ele descobre detalhes mais curiosos, não consegue se afastar da vontade de descobrir os segredos por trás da cliente misteriosa.
Tornatore é um grande diretor. Faz uma montagem assustadoramente acelerada desde o começo, mas ainda consegue usar de pequenos elementos rápidos para ambientar em poucos segundos. Neste ritmo corrido, mistura o primeiro ato com o início do segundo. A história principal se desenvolve em paralelo à explicação do que é o mundo de Oldman. À medida em que o espectador compreende o personagem, também o vê se envolvendo com a trama principal. Investigando o inventário dos itens na casa de Claire, Oldman descobre uma peça de engrenagem que esconde em seus detalhes uma pista para um pequeno tesouro perdido. A investigação da máquina segue lado a lado com as descobertas de quem é Claire.

Kinostarts - "The Best Offer - Das höchste Gebot"Oldman investiga o mistério por trás das paredes da casa de Claire.

O filme segue assim até que chega ao momento no qual Oldman parece estar profundamente envolvido romanticamente com a Claire. Mesmo quando o mistério vai diminuindo, Tornatore continua o filmando como um suspense. Então fica a dúvida para o espectador. Ele está vendo um romance sobre um homem que não compreende as mulheres desvendando uma pela primeira vez na sua vida ou está fazendo um suspense de mistério?
Para tanto suspense, Tornatore mistura a música minimalista e pesada de Ennio Morricone com a ironia constante do personagem e filma o mistério de Claire fazendo com que revelações rotineiras para pessoas comuns sejam terrores intensos para alguém com o transtorno de Oldman. Tudo isso faz com que O Melhor Lance seja muito divertido. Os cortes representativos, o mistério envolvente, o humor do protagonista e a grande direção prendem praticamente no momento em que a produção começa.
O final do filme envolve um twist do melhor estilo. Porém, recomendo ao espectador não ver o filme pela surpresa, mas pelo que ela representa para a transformação de Oldman. Com a espetacular interpretação do Geoffrey Rush, o personagem ganha todos os detalhes de um homem com TOC. É impressionante como ele parece incomodado sempre que se encontra com uma mulher desconhecida ou o nojo exprimido rapidamente ao perceber que terá que tocar em algo de outra pessoa. Ao lado dele, Donald Sutherland não parece entender muito bem as falas que tem que dizer, fazendo uma interpretação muito aquém de seu talento. A desconhecida Sylvia Hoeks está esplêndida como Claire. Dona de uma beleza hipnotizante, Hoeks cativa com sua voz de seda e sua expressão de desespero. O Jim Sturgess está correto, como sempre.

claireSylvia Hoeks. Beleza hipnotizante em cena.

O filme tem um grande problema, que é o seu terceiro ato. Por mais que seja bem dirigido e sirva para o que Tornatore quer representar, esta parte é muito longa após a revelação do twist. Depois de algum tempo, nada de novo que apresenta é realmente novidade. Se deixasse tantas explicações de lado e focasse direto na grande tomada final, seria muito superior.
O Melhor Lance é um mistério previsível, mas muito bem conduzido. É um romance com tons de suspense que mantém a atenção. Mas acima de tudo isso, é sobre um homem com um conflito pessoal perturbador e muitíssimo interessante passando por uma transformação traumática.
 
FANTASTIC…

47 comentários em “O Melhor Lance

    1. Claire, numa de suas declarações à Oldman, falou da viagem q fez a Praga numa excursão escolar, da Igreja e do bar Night an day. Ele foi lá no intuito de encontrá-la ; mas , fazer o quê, depois de toda decepção?

      1. Isso. A ida ao restaurante se explica aqui: “Toda falsificação possui alguma autenticidade”, própria afirmação de Oldman. No fundo ele ainda acreditou que Claire pudesse amá-lo… ainda restava uma esperança

    2. O amigo dele o roubou. O pintor, que o ajudava nos leilões. E, na cena do restaurante, ele tentou reencontrar Claire…acreditando que ela realmente o amou…

    1. O Billy com o Robert e a Claire. Os três estavam trabalhando juntos. Quanto ao restaurante, faz muito tempo que assisti ao filme. Eu teria que rever pra poder dizer o que eu acho.

    1. Os três tramam o tempo todo. Virgil é roubado no final pelos três. O restaurante que Claire mensiona ter sido um lugar que ela adorava, é o dos relógios, que ele procura ainda lá, encontrar Claire.
      Após essa última tentativa, termina em um hospital, com depressão.

  1. A ida ao restaurante se explica aqui: “Toda falsificação possui alguma autenticidade” na própria afirmação de Oldman. No fundo ele ainda acreditou que Claire pudesse amá-lo…

    1. A autenticidade da fraude toda não é o restaurante night an day ! É mais sutil…. A unica coisa verdadeira na trama é o nome da dona da mansão CLAIRE (a anã com memória fotográfica). Um toque de verdade na obra de arte da falsidade toda !! Rsrsrsrsrs…..

  2. Queria saber a relação do Billy com o Robert e o que Oldman fez levando aquele quadro ( que quadro era este ? O da bailarina,pintado por Billy????)
    Caraca ,acabei de ver esse filme maldito as 3:40 da madrugada, não tomei banho ,não comi ,não tomei meus remédios e não vou saber nunca se ele termina louco no asilo ou se retorna a Praga com a m… do quadro …o que foi por último? Foi Billy ou Robert que ficaram com “Claire “??? Vontade de MATAR UM !!! DIRETOR FASCÍNORA!!!!
    Alguém me ajuda a dormir com a resposta ,peloamordeDeus!!!!
    iza55brazilian@gmail.com

    1. Pelo que eu entendi, o Billy junto com Robert e a Claire armaram pra roubar todos os quadros valiosos dele. O Billy já tinha pintado o quadro da “mãe” dela há muito tempo, que é o quadro enviado pro Oldman, ou seja, Billy já tava no esquema há muito tempo.
      O Robert planejou tudo, comprou a mansão, deixou no nome daquela robô e a Claire saía muitas vezes da mansão, logo tudo era uma mentira!

      1. Roubou o coração e etressalhou. Será que ela se apaixonou? Creio que sim.. mas existe ética entre os ladrões de artes, ela não poderia ficar com ele, ou poderia até morrer. Provavelmente ela tinha um romance com o Billy, mas gamou no coroa.. isso é inegável

    1. Provavelmente caiu a ficha de Oldman quando aquela mulher que ficava na janela contou que ela (Claire) tinha saído dezenas e dezenas de vezes da casa durante o ano.

  3. A mensagem do filme é para nunca confiar em amigos. Os mais intimos de longa data estão tramando para te roubar. Os mais recentes só querem te roubar. As mulheres que te interessam só querem te enganar e te roubar. O mundo todo é falso. Esse diretor é um esquizofrênico.

    1. Pelo visto, você não entende nada de amizade. Ele nunca foi amigo de ninguém, de modo que ninguém também era seu amigo. Uma alma solitária e atormentada, órfão desde criança. Apesar do final previsível, o filme é muito bom!!

  4. Esplêndido!! É um filme para alertar sobre a maldade do mundo, e esses coroas que gostam de novinha, acham que são espertos, se lascam todo! Vigia vovó!! Cuidado com as Dalilas por aí…Abre o olho Sansão!!

  5. Quem mandou os caras dar uma surra nele?
    Se os quadros eram verdadeiros (e eram), a garota já era milionária. Por que ela iria querer dar um golpe nele e correr o risco de ser presa?
    O final foi triste. Gostei não.
    Merecia um final mais emocionante, mais criativo. Tipo, a garota poderia ter sido sequestrada pelos ladrões que roubaram os quadros, aí ele ia atrás, quebrava os vagabundos no cacete e resgatava a sua amada. Ficariam pobres por um tempo, mas felizes para sempre.
    Cara burro também, meu, não investigou nada sobre o passado da garota misteriosa, não desconfiou daquela conversa estranha da namorada do amigo (da onça).

    1. Breve explicação da História:

      O vilão na verdade é Billy, o velho melhor amigo de Virgil Oldman, Oldman acredita que Billy (apesar de Billy sempre ajuda-lo a arrematar e valorizar as pinturas femininas que Oldman coleciona) não possui qualquer talento Artísitico digno de nota. O personagem principal acredita que Billy, seu melhor amigo “não tem mistério”.
      Billy então conspira, sem nunca o filme mostrar contato direto com os personagens Claire e Robert e secundariamente com o caseiro e Sarah, “namorada de Robert”.
      A trama é metaforicamente linda, desde as obras e artistas mencionados, aos ambientes e nomes tudo tem uma razão oculta.
      Em posse da preciosa informação de que Oldman tem uma coleção monumental de pinturas femininas, Billy esta em uma posição privilegiada para aplicar o golpe, pois além de parecer o personagem menos capacitado para fazê-lo (na visão turva de Oldman) ele conhece Oldman muito bem, sabe o valor das obras, sabem que estão na casa de Oldman e sabe que ele pode enganar o velho Oldman que na verdade não tem qualquer mistério (Oldman é um personagem com toques de limpeza, aversão a pessoas e manias e hábitos bem definidos, enquanto Billy mesmo sendo um artista frustrado, é um artista e tem ganhado a vida ajudando Oldman e sabe-se lá quem mais, a arrematar obras importantes através de engano e dissimulação).
      Não é só até bem tarde na história, e isso graças a extraordinária atuação de Geoffrey Rush, que o expectador desenvolve alguma simpatia pelo velho Oldman, maníaco e irritadiço.
      Assim como Oldman nos deixamos nos levar pelo mistério de “Claire” a tal ponto que muitos expectadores podem até ter desconfiado que ela era um autômato antes de sua primeira aparição, pois a história nos conduz exatamente para ai… A gangue, metaforicamente é um autômato, uma séria de mecanismos montados em sequência que passam a aparência de vida e verdade, embora seja apenas outra ilusão bem articulada, tramada em detalhe para dar a Oldman a resposta a sua obsessão artística: Uma mulher, misteriosa, bela e secreta como sua própria coleção, aparentemente perturbada, como alias o é o próprio velho e solitário Oldman.
      No meio do filme somos introduzidos a pintura da bailarina, sem nada desconfiar.
      Billy e sua gangue tendo alugado a Villa com tudo o que há dentro, tramam contra Oldman lhe seduzindo com seu passado, as peças do autômato supostamente pertencente a Vaucanson, um dos artistas apreciados por Oldman e sobre o qual ele escreveu uma tese.
      Oldman obececado com a beleza e a arte clássica e acadêmica esta fechado para a realidade da vida e do mundo, não sabe lhe dar com uma mulher e parece desprezar tudo o que é simples e comum. Os personagens de vida comum no bar que a princípio são mero cenário, possuem na verdade a chave da trama. A verdadeira Claire é uma anã, não tão bela por fora mas verdadeira e monumental por dentro com todo o conhecimento inesquecível que registra. No fim a anã Claire é o anão escondido no autômato na referência feita por Robert. É a parte do autônomo que sempre diz a verdade, que sempre sabia, da lembrança de Oldman sobre seus estudos de Vaucanson.
      Oldman esta completamente apaixonado e vendido completamente ao ardil. Pego na trama ao achar que surpreendia Claire ao observa-la de trás de uma estátua (Claire que na verdade é apenas um personagem, esta completamente ciente da presença de Oldman e sexualiza sua presença ao usar só roupão, a cena do dedo e a fragilidade que demonstra sozinha).
      Oldman quer conserta-la, como quer consertar o autômato e a si mesmo, todos os anos perdidos incapaz de se relacionar, tendo por mulheres apenas as telas com as quais passa suas noites, finalmente começam a encontrar superação em Claire.
      O cerco se fecha quando tramam o espancamento de Oldman, um gatilho antecipado por Robert de modo a trazer Claire para fora como Oldman deseja. Nesse ponto Claire “supera” seu medo aparente por amor de Oldman e ele esta vendido completamente a suposta pureza desse amor, ele introduz Claire a sua casa, ao seu lugar secreto, lhe dá tempo e acesso na casa e Oldman, tão previsível que é, de nada desconfia.
      Na cena do restaurante vemos o que talvez seja um breve momento do arrependimento de Claire ao perceber que o catalógo da Villa esta finalmente pronto, os sentimentos dela colidem ali por um momento: todo o amor de Oldman, o trabalho dedicado a Villa por causa dela, ele abrir mão de sua comissão, o espancamento, tudo que levou até aquele ponto e agora para encerrar a trama ela precisa convencê-lo a não tentar leiloar o que Claire na verdade não possui… como nada é dela, é fundamental na trama que ela convença Oldman a não vender nada. Oldman, obssessivo, apaixonado e previsível atende ao pedido. Nessa cena Robert é praticamente um psicopata. Com as lágrimas quase rolando a falsa Claire se recompõe e convence Oldman com facilidade. O terror de suas ações a assalta segunda vez, por um instante quando Oldman menciona a aposentadoria. Nessa cena a história se amarra. temos os vilões preparados, Oldman conquistado e o momento do crime apresentado (ainda que até aqui muitos expectadores de nada desconfiem). Oldman vai a Londres, onde após um leilão excepcional recebe a trágica e incompreensível notícia da traição sem entender nada. Billy lhe informa que lhe deixou uma de suas pinturas (a bailarina) e que talvez isso convença Oldman de seu talento.
      Ao chegar em sua casa Oldman encontra a bailarina e se vê derrotado pelo desaparecimento dos quadros, a compreensão da ausência de Claire e o cruel autômato deixado para trás alardeando a moral da história “a sempre algo autêntico em cada uma das falsificações…”. Há algo autêntico no genuíno interesse de Robert por mecânica e autômatos, algo genuíno (ainda que sombrio) no amor de Claire por Oldman, algo do talento verdadeiro de Billy na trama medonha que preparou para Oldman, etc…
      Após isso o filme infelizmente se arrasta com muitas explicações, das quais as mais importantes são o encontro com a anã Claire, o impacto adoecedor da situação sofrida por Oldman, e sua “superação” parcial, buscando a autenticidade oculta na falsificação de Claire quando vai até praga na expectativa de encontra-la.
      No fim a moral se revela, toda a trama esta ali naquele restaurante Night and Day em Praga. O local favorito de Claire colide com as engrenagens por toda a parte lembrando a paixão de Oldman por Vaucason e o trabalho de Robert, os mecanismos de toda história do filme, Oldman completamente sozinho, num local infestado de pessoas.
      Há muito mais para se dizer, mas para um comentário escrevi demasiado… quem gosta de ler que aproveite.

  6. O filme é fascinante. Acabei de assistir. Uma trama bem elaborada. E Geoffrey Rush, como em o Discurso do Rei entrega uma atuação perfeita, insuperável, magnífica.

  7. O filme surpreende desde o início! Interpretação fantástica de Rush. Uma beleza ímpar da personagem Claire. Uma trama incrivelmente bem preparada pelos personagens Billy, Robert, sua namorada, o caseiro e, logicamente, Claire. Mergulharam fundo nas fraquezas de Oldman, tornando seu interesse pela misteriosa cliente maior a cada cena. Iludiu-se com a possibilidade de amar pela primeira vez e sucumbiu às falsas amizades. Enlouqueceu, recolheu-se e manteve acesa a esperança de que tudo não passou de um pesadelo e que sua musa Claire fosse, em algum momento, entrar pela porta do Night & Day. Fazia tempo que não via um filme tão bem feito!

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