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A Datilógrafa

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Uma das coisas que mais gosto em assistir filmes franceses é que na maioria das vezes é como se eu estivesse vendo algo completamente novo sobre o qual não conheço nada. Como o cinema francês é tão elitizado como o grande cinema iada iada iada sempre fica a expectativa de ver algo muito intelectual, lento e pesado. Por isso acabo me surpreendendo com coisas como este A Datilógrafa, Paris-Manhattan e Intocáveis. Que são filmes mais leves.

Rose Pamphyle, uma garota de 21 anos na França da década de 1950, tenta a sorte como secretária. O novo patrão, Louis Échard, fica perplexo com sua capacidade de datilografia. Vendo o talento dela, ele resolve estimular Rose para que ela ganhe concursos.

A sinopse diz praticamente tudo sobre a trama, mas pouco sobre o filme. Como um bom roteiro, o conflito é apenas a base para um desenvolvimento mais profundo. A Datilógrafa é sobre homem encontra garota. Como em todos os filmes sobre o tema, tudo é previsível.

Mas A Datilógrafa é um daqueles filmes que, apesar de ser feito de clichês, funciona ao utilizar bem elementos já repetidos a exaustão. Você já sabe que Louis e Rose vão se apaixonar. Que vão passar por situações cômicas enquanto lutam contra o sentimento. Que vão brigar perto do final e reatarão no clímax.

Pode reclamar de spoiler. De um jeito ou de outro, você já sabia disso tudo.

Louis e Rose. É bem óbvio o que vai acontecer.
Louis e Rose. É bem óbvio o que vai acontecer.

O negócio de A Datilógrafa está na forma como realiza isso tudo. Retoma o estilo de filmes da época. Em fotografia, arte, direção, montagem. São cortes rápidos, com imagens específicas que remetem à inocência do áudio visual do período. Apesar disso, o filme não é nem um pouco inocente ou ingênuo.

É por isso que o filme recebe comparações com Mad Men. É uma desconstrução da imagem dourada que ficou daquele tempo. Os homens possuem negócios prósperos e sustentam suas famílias. As mulheres são educadas, polidas e cuidam da casa. Tanto é que ser secretária já é ser moderna.

Parece um sonho de 1950, mas a verdade é mais profunda.
Parece um sonho de 1950, mas a verdade é mais profunda.

Não se esconde que esses homens são sobreviventes da Segunda Guerra Mundial, que as mulheres não são virgens, que era uma sociedade de adoração ao status do fumo. Louis se culpa por não ter mantido uma esposa troféu e não é o homem feroz e irritado que deixa transparecer. Rose não aceita a padronização e briga em espaços que não aceitam opiniões femininas.

Existe um sopro de ar puro com a forma como o filme constrói a comédia romântica. Com a montagem super acelerada, não existe tentativa de ser realista. Muito pelo contrário, é bastante fantasioso. Mesmo assim, o humor não surge de situações exageradas e piadas que vão crescendo. As piadas são sutis. Acontecem e acabam. Parece estranho a princípio, mas conquista com dez minutinhos.

De repente o cinema inteiro está gargalhando com as coisas mais comuns. Isso acontece porque os personagens são bem apresentados. O espectador fica com a impressão de que os conhece e de que sabe o que eles estão pensando em cada situação constrangedora.

Fugindo do realismo, o filme não tem vergonha em investir em situações claramente fantásticas. A ideia de ter uma mulher desconhecida morando na mesma casa, de fingir um relacionamento que não existe, de ensinar e ter poder sobre alguém do sexo oposto. São momentos que parecem fantasias de homens apaixonados.

Mas é por isso que funciona. Comédias românticas são tão bobas e se esforçam tanto em ser engraçadas através de momentos forçados que não tem mais graça. Ao aceitar o contexto de fantasia, A Datilógrafa faz com que o jeito bobinho faça sentido.

Quando o filme chega ao final do segundo ato perde um pouco a mão. Sai dessa inovação da ambientação cômica e se perde em um draminha besta cujo final é óbvio.

A atriz Déborah François tem um jeito que lembra a Audrey Hepburn. É charmosa, bonita, sensual e apaixonante. Já o Romain Duris faz uma coisa diferente. Causa estranhamento a princípio, ele não tem cara de galã romântico. Mas foi justamente o que mais gostei dele. Louis não é o típico personagem de comédia romântica, ele é um homem amargurado com lembranças da guerra.

A presença da Bérénice Bejo causa choque. É esquisito vê-la colorida depois de O Artista. Mas ela ainda está linda. E desta vez com cabelos vermelhos. Sem reclamações em relação a isso.

Diversão esperta. Derrapa no final, mas ainda é um bom filme.

 

GERÔNIMOOOOOOO…

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