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Sobre a importância dos finais (A Cura – 2016)

Fotografia impecável. Enredo e narrativa envolventes. Atuação convincente. Parece a fórmula perfeita para um bom filme, certo? Errado. A Cura é uma produção que traz todos os elementos citados, além de outras características de um filme interessante. Mas peca intolerável e fatalmente no roteiro. Lockhart (Dane Deehan) é um ambicioso executivo. Chantageado pelos diretores da empresa onde trabalha, ele se vê obrigado a viajar aos Alpes Suíços, com a missão de buscar Pembroke (Harry Groener), um figurão da mesma companhia. No entanto, o sujeito encontra-se em uma espécie de sanatório, comandado pelo peculiar Dr. Volmer (Jason Isaacs), de onde será difícil sair.

Do mesmo diretor de O Chamado, Gore Verbinski, A Cura prometia, desde os primeiros trailers, ser um suspense intrigante. E isso sem usar da apelação forçada e barata do blockbuster de horror anterior. De fato, o longa cumpre tal papel. A fotografia é maravilhosamente bela, ao abusar das notáveis paisagens da Suíça. O uso constante de planos detalhe garante a atenção do espectador no filme, especialmente se assistido no cinema. A paleta de cores da maioria dos planos consegue, com maestria, conferir aura gótica e antiga a um filme contemporâneo – às vezes, o espectador chega a se esquecer de que a história se passa em 2016. A trilha sonora é leve, sutil e sem exageros – apenas o murmúrio de uma voz feminina, cantando uma música agradável e fácil de decorar é o suficiente para criar o pretendido ambiente de suspense. O uso da violência na produção é capaz de fazer o sujeito mais sensível tirar os olhos da tela, mas não há abuso de sangue ou cenas nojentas.

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Fotografia cinzenta e meticulosa.
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Terapia em banho da Alemanha.

Spoilers a partir daqui

A Cura tem duração de quase duas horas e meia. Até os 120 minutos, o roteiro garante o prazer do apreciador de bons filmes de suspense. Lockhart encontra-se incapaz de abandonar o sanatório, embora queira. O local já é assustador por si só, mas além disso, carrega uma história de tristeza e crueldade – 200 anos antes, os habitantes da mansão haviam protagonizado uma história que envolvia incesto e assassinato. O barão havia forçado a própria irmã a casar-se com ele e gerar um filho, que em certo ponto foi literalmente arrancado do útero da moça. E há mais um detalhe: o sujeito tornou-se famoso entre a comunidade médica suíça por realizar experiências misteriosas em cobaias humanas. Lockhart, à medida que desvenda os mistérios da clínica, desconfia que Dr. Volmer possa ser um seguidor da ideologia macabra do antigo barão.

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Viagem sem fim feliz.

Até aqui, está tudo certo. O enredo é condizente, sem grandes reviravoltas ou a famosa “forçação de barra”. Mas na última meia hora… tudo isso se desvai. O protagonista descobre que na verdade o sinistro Dr. Volmer é o (mais sinistro ainda) barão que lá vivera 200 anos antes. Sim, é isso mesmo. O vilão foi capaz de alcançar a fórmula da longevidade por meio das experiências que realizava em seres humanos. Tal revelação é acompanhada de uma cena bizarra em que o barão arranca a pele do próprio rosto – e fica parecendo mais uma múmia.

Mas se você acha que a bizarrice acabou por aí, está enganado. Lembra do bebê que foi arrancado do útero da irmã do barão? A criança não só sobreviveu, como tornou-se uma mulher de 200 anos de idade, com a aparência de uma adolescente. Com a chegada da garota à fase de procriação, o plano do barão é repetir a história e casar-se com a própria filha, para continuar sua linhagem.

Fim dos spoilers

A impressão que fica é que a produção mudou de roteirista no final das filmagens. Mas, não há nada que confirme essa suspeita. O desenvolvimento do filme apontava para um final sem grandes explicações. Do tipo que deixa o espectador na vontade de saber mais e chega a despertar a ira de alguns. Honestamente, teria sido melhor assim. Não é só a qualidade do enredo que cai vertiginosamente nos últimos 30 minutos. Os enquadramentos, a trilha sonora, até mesmo o desempenho dos atores sofrem uma grande freada e contribuem para que o clima da produção vá de interessante para simplesmente tosco. Assim como os fins justificam os meios, os finais também justificam o restante? Não necessariamente.

4 comentários em “Sobre a importância dos finais (A Cura – 2016)

  1. Ao final do filme, na última cena, quando Lockhart pedala a bicicleta, o filme deixa no ar a impressão que ele também ficou de fato louco, certo? Não entendi bem essa parte final do filme, nem gostei pra ser sincera..

    1. cara to a meia hs revirando a internet pra ver se eu acho acho alg que desvende esse fim porque o olhar dele no final deixou uma suspeita mt grande, como por exemplo do barao ter de alguma forma trocado de corpo com ele, isso faz ate um pouco de sentido ja que existe uma parte do filme que o barao falar que foi bom dele ter vindo, tipo deixando uma curiosidade do porque foi bom, sendo q ele causou alguns problemas, mas ai fiquei pensando, tipo o garoto se deu bem com ela e ela pareceu gostar dele entao seria algo benefico para o barao trocar de corpo com ele, sendo assim a menina teria mais facil aceitacao em se relacinar com ele no corpo do menino do que no proprio corpo dele.

    2. A explicação do final é simples, ele “acorda” e muda seu interior, de uma pessoa que era um executivo que só pensava em “si”, isso faz ele ver o mundo com outros olhos, salva a menina e não quer nem mesmo voltar para seu “trabalho” quando encontra seus colegas no final.
      Eu só fiquei curiosa com a parte dos moradores que mostrava perto da clínica, todos estranhos!!!

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