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Poltergeist – O Fenômeno

Poltergeist-movie
Em um stand-up do Eddie Murphy, o comediante diz que assistiu Poltergeist e que, no lugar da família do filme, teria abandonado a casa no momento em que descobrisse a filha dentro da TV. O que mais me impressionou no comentário de Murphy é que ele teria ficado lá até tudo isso acontecer. A opinião de Murphy representa muito bem como era a expectativa das pessoas da década de 1980 com aparições e espíritos. Expectativa também presente no filme.

Família de classe média comum, pai, mãe e três filhos, se muda para um subúrbio recém-construído. De repente pequenos sinais dão pista de algo sobrenatural. Primeiro a filha mais nova começa a conversar com pessoas na televisão, depois alguns móveis mudam de posição. Fenômenos naturais assolam apenas aquela casa. De repente a verdade vem a tona quando descobrem que a filha mais nova foi sugada para dentro da televisão.
O filme marca a união do Steven Spielberg, como produtor e roteirista, e do Tobe Hooper, como diretor. Spielberg acrescenta à produção seu crivo técnico e inocência na construção narrativa e Hooper deu à produção todo o horror visceral necessário. A vida suburbana do americano médio com características narrativas quase infantis eram um padrão nos filmes de Spielberg na época (vide E.T. e Contatos Imediatos do Terceiro Grau). Hooper, por sua vez, não tem medo de sumir e agredir crianças.
Muito antes da enxurrada de filmes de terror que acompanham famílias em suas casas que surgem nos cinemas, Poltergeist inventou diversas características de aparições fictícias que convenceram o público da época, assim como algumas coisas que parecem exageradas para a audiência moderna. Basicamente, os fantasmas são poderosos demais. Eles não fazem apenas as coisas se moverem e agridem as pessoas. Eles criam tornados, possuem árvores e bonecos, abrem portais dimensionais e podem até aparecer fisicamente das formas mais grotescas.
Para isso efeitos especiais que eram os mais avançados na época dão vida para todas essas coisas. Animação em stop-motion, animação tradicional desenhada diretamente em película, sobreposição de imagens com maquetes e jogos de luzes e sombras. Sem contar com o estilo de filmagem tão comum a Spielberg e Hooper na época. Ele muda cenários para criar sensações diferentes em takes específicos. Em uma cena primorosa, transforma o corredor da casa em uma corrida longa e tensa através de um efeito de dolly zoom.
Onde começa o toque de Hooper e termina o de Spielberg? É impossível dizer. O que é bem notável é que, em termos de linguagem, Poltergeist é a perfeita conjunção dos dois. São diversos enquadramentos inspirados, movimentos de câmera inteligentíssimos somados a uma montagem impecável. Hooper consegue fazer com que uma TV entrando no horário de desligar o sinal (coisa comum do antigo sistema de transmissão analógico) seja assustador ou com que dois rápidos takes de um cachorro pareçam uma despedida triste.

large poltergeist blu-raysnapshot20081007095758Parece que o cachorro está preocupado em abandonar os donos.

Porém, assim como o roteiro ainda tem um tom de novidade pelo poder extremo dos espíritos, o filme envelhece mal em diversos níveis. A visão quase infantil dos humanos em relação às aparições parece apenas tola e ingênua hoje em dia. Qualquer pessoa sensata atualmente teria abandonado a casa, e talvez colocado fogo nela, no momento em que as cadeiras se organizam em um arranjo impossível.

large poltergeist blu-ray3aHora de tocar fogo na casa.

Ao invés disso, quando percebe que tem almas na casa, a dona de casa fica feliz ao notar que pode até brincar e se divertir com elas. A alegria dura pouco quando a árvore tenta comer uma das crianças e a piscina ainda não terminada parece estar viva. Mas aí já fica tarde demais para sair de lá. A filha mais nova desapareceu e tudo indica que ela ainda está em algum lugar na casa.

O outro grande defeito é a estrutura. O filme tem dois finais. Um poderoso e carregado na ambientação e outro onde a trama chega ao seu ponto final. O primeiro muito mais climático que o próprio término da produção. O terceiro ato, ainda que importante, parece nunca alcançar o nível de empolgação do que parecia ter sido o final verdadeiro.

Os atores acrescentam diversas camadas para essa família americana dos sonhos. Craig T. Nelson (o pai d’Os Incríveis) cria um homem que não sabe como se impor ao mesmo tempo em que sustenta. A mãe é uma mulher que varia do tradicional, dona de casa desempregada que vive para cuidar dos filhos, para o moderno, não se restringe de fumar maconha após colocar as crianças pra dormir e de ter ainda mais voz nas questões familiares que o próprio esposo.

Mas as grandes interpretações são da menina loira que interpreta a filha mais nova. Ela tem toda a desenvoltura para demonstrar que acredita nas coisas que acontecem apenas através dos efeitos especiais. O outro brilho vem da atriz Zelda Rubinstein, que se impõe sobre todos os outros atores mesmo sendo menor que todos eles.

Poltergeist é um filme típico dos anos 1980. A visão de mundo e as escolhas de visuais demonstram um estilo específico da época. Pode parecer bizarro para os dias de hoje, mas é um retrato de um momento cultural além de ser a gênese de vários clichês de terror.

ALLONS-YYYYYYYYYYY…

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