Postado em: Blog Desafio 1001 filmes

63 – Boudu, Salvo das Águas

Fazer esse desafio gera situações estranhas. Em um momento, a coluna passa por um hiato indefinido porque o fraco filme Ama-me Esta Noite é dificílimo de encontrar. No outro, este Boudu, clássico do diretor francês Jean Renoir, e muito superior, está disponível com legendas em português no Youtube.

O ator Michel Simon, desta vez também como produtor do filme, retoma a parceria com Renoir para adaptar peça de teatro que zomba das normas sociais. Boudu é um mendigo que resolve se matar no Sena quando o cachorro desaparece, mas é salvo por Édouard Lestingois (Charles Granval), um livreiro rico. Para garantir que o homem não vai tentar tirar a própria vida mais uma vez, o vendedor permite a ele viver na casa dele.

É fácil notar as intenções de Simon e de Renoir com a história. Boudu é grosso, sem educação e hedonista. As regras sociais às quais Édouard está preso são colocadas em xeque a cada vez que o mendigo simplesmente se põe a tentar conquistar os pequenos prazeres pessoais.

Boudu recuperado do rio.

Ele quer comer, então remove a esposa de Édouard do comando da casa, que ela tenta manter organizada. Quer seduzir a empregada Anne-Marie, que tem um caso com o patrão, então destrói os cômodos para tentar limpar as mãos. Quando não consegue o sexo imediato, transa com a mulher do anfitrião.

Assim, Édouard, que demonstra um bom coração, é forçado a avaliar como manter a postura social diante da hipocrisia. Ele admite que ama a esposa, mas quer sexo com a empregada (que o satisfaz por causa do dinheiro dele), ao mesmo tempo em que não se importa que Boudu tenha um caso com a mulher (que se enamora do prazer com o quase desconhecido).

O que conduz à conclusão da produção, com mais ironia acerca da fugacidade das normas diante das vontades momentâneas. A reflexão pode ser ultrapassada, mas o humor ainda é válido. No entanto, Renoir poderia usar usar mais domínio técnico, além da linguagem esperta no roteiro. Mas o diretor não parece interessado em sair do estilo teatral de filmagem dominante da época para dar destaque para o texto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *