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60 – A Cadela

Assistir a este A Cadela em tempos atuais requer algum nível de comprometimento moral. Em grande parte porque o filme trata, por grande parte da duração, da exploração e abuso de uma mulher por dois homens. Mas aos poucos, a produção revela por que é considerada o primeiro grande clássico do diretor Jean Renoir.

Apesar do título, o protagonista aqui é Maurice (Michel Simon), um pintor de classe alta que vive triste devido ao casamento com uma viúva amargurada. Isso até que ele encontra o casal Lulu (Janie Marèse) e Dédé (Georges Flamant) na rua. Ele espancando ela. O “anti-herói” de Renoir aparta a briga sem saber que, na verdade, ela é uma prostituta e, o homem, o cafetão dela. Daí os três se envolvem em um triângulo amoroso trágico.

A beleza aqui é que, apesar de ser explorada pelos dois, Lulu também os explora. Em certa medida, quase na mesma proporção. Renoir não quer mostrar um homem de bem que é destruído pela podridão alheia, mas o encontro de três pessoas podres. A reviravolta existe porque Maurice se considera um homem de bem, e até age como tal. Mas aos poucos a tensão e a pressão das situações revelam a podridão que também existe nele.

Maurice se pinta. Patético em todos os níveis da representação.

Além dessas questões espertas no roteiro, Renoir dá ao filme uma energia diferente do cinema da época ao filmar em ruas reais, com transeuntes nos cenários. Isso em uma época em que era difícil acertar o áudio no início do cinema falado.

Outro acerto do diretor é fazer com que os três personagens sejam caricatos. Maurice, em especial, tem até o rosto retorcido pelo ator, o que realça o quanto ele é patético. É uma obra interessantíssima, que merece ser vista.

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