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Mais um Verão Americano (Wet Hot American Summer – 2001)

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Mais um Verão Americano possui uma das histórias mais divertidas do cinema e da comédia recentes. União de um grupo grande de comediantes em 2001 para uma zombaria de padrões e expectativas acerca da juventude estadunidense, foi um grande fracasso nos cinemas, mas se tornou cult redescoberto no lançamento para DVDs. Tanto que gerou uma continuação em forma de minissérie quando o filme foi lançado na Netflix.

No último dia do acampamento Firewood no verão de 1981, o grupo de conselheiros (os garotos mais velhos e destacados para orientar os mais novos) passa por uma série de descobertas pessoais. Beth (Janeane Garofalo), a dona e chefe do local, se envolve com o professor Henry Newman (David Hyde Pierce), que tenta ensinar algumas crianças para impressioná-la. Coop (Michael Showalter) e Katie (Marguerite Moreau) descobrem que estão apaixonados um pelo outro, o que vai criar problemas com o namorado dela e amigo dele, Andy (Paul Rudd), que percebe a oportunidade de traí-la com Lindsay (Elizabeth Banks). J.J. (Zak Orth) e Gary (A.D. Miles) descobrem que o amigo McKinley (Michael Ian Black) tem um relacionamento homossexual com Ben (Bradley Cooper). O cozinheiro Gene (Christopher Meloni) tem problemas para assumir o diferentes gostos sexuais. Gail (Molly Shannon) descarrega nas crianças a tristeza pelo fim do último noivado. Susie (Amy Poehler) tenta montar com Ben a coreografia do que esperam ser a melhor apresentação teatral do acampamento.

Mais um Verão Americano (cujo título original significa algo como Quente e Úmido Verão Americano) é uma comédia nonsense. Mas, diferente da maioria dos exemplares do gênero, o filme carrega uma busca por sinceridade acerca de diversos temas tão complexos quanto próximos do ilógico na natureza humana. O foco, óbvio, é na adolescência, quando diversas dessas questões ganham contornos ainda mais dramáticos e absurdos. Coisas como a descoberta da sexualidade, de uma identidade própria e os resquícios da maldade que vem da inocência infantil dão a abertura para incoerências comuns nas vidas de quase todos os seres humanos.

casamento gay
União gay de McKinley e Ben. Naturalidade zomba do preconceito.

Os roteiristas David Wain (também diretor do filme) e Michael Showalter, não têm pudores para retratar esses pequenos conflitos que ressoam com tanta grandiosidade na vida de cada indivíduo. Quando se trata de sexualidade, existe uma surpreendente sensibilidade. Questões que seriam tabu como a homossexualidade de Ben e McKinley ou as formas de se masturbar de Gene são tratadas com naturalidade. O humor nesses casos surge de ironizar as expectativas negativas. Como se trata de adolescentes com requintes de crueldade na década de 1980, espera-se que os garotos sejam preconceituosos com o amigo. Tratar disso como simples e comum faz rir da discriminação que normalmente seria o padrão.

Por outro lado, é nas situações que normalmente evocariam alguma singeleza que Wain e Showalter são mais cínicos e permitem que um lado mais sombrio venha à tona. O amor que surge entre Coop e Katie não é suficiente para que as necessidades fisiológicas de adolescentes sejam superadas. Uma volta durante a tarde de um grupo de jovens na cidade pode envolver escolhas terríveis no que deve ser a sequência mais engraçada da produção. Quando estes aspectos mais tenros são tratados com viés positivos, ganham retrato de ingenuidade absurda. Como o relacionamento que surge entre Beth e Henry, que vira uma trama desproporcional com um meteoro e ficção científica.

Wain filma tudo com grandes noções de enquadramentos. Na sequência de drogas (sim, tem uma) a câmera segue um estilo documental para dar um tom mais sério, o que faz ser ainda mais engraçado. A iluminação sequer tenta ser elaborada, menos na cena de sexo entre McKinley e Ben, porque a piada é o fato de que se trata do único momento realmente sério do filme.

casal perfeito
Coop e Katie. Na adolescência, o amor não vale nada.

O elenco talvez seja a razão para o sucesso depois do lançamento nos cinemas. Em 2001 ninguém era famoso. Aos poucos diversas das carreiras decolaram isoladamente. Um virou o Homem-Formiga, outra está em Jogos Vorazes e já recebeu algumas indicações ao Oscar. Por falar em prêmios, o Bradley Cooper já recebeu as nomeações dele. Até as comediantes do Saturday Night Live Amy Poehler e Molly Shannon cresceram além do programa que as lançou. Todos possuem momentos de brilhantismo no filme. Especialmente Paul Rudd com a inconsequência constante do personagem. O grande destaque vai para o desconhecido Michael Showalter, cuja carreira se fechou em ser roteirista. Hilário e cool, Showalter mistura estilos para construir uma figura que é patética e envolvente ao mesmo tempo.

Mais um Verão Americano, ironicamente, se tornou um clássico da Netflix (se é que um serviço tão recente possa ter clássicos) ao ser combinado com a continuação recém lançada. Merece a assistida apenas pela capacidade de ser nonsense e inteligente ao mesmo tempo. Faz rir pelos motivos certos e ainda permite pensar com as ironias dessa coisa maluca chamada vida.

 

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