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Ponte Aérea

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Ponte Aérea é mais uma tentativa do cinema nacional de alcançar sucesso com gêneros bem definidos do cinema estadunidense. Desta vez é o romance, mas com a pegada do estilo canadense de realização com linguagem juvenil e pontos de vistas pessimistas. Ainda assim, o filme sofre de um mal visto com alguma frequência na produção brasileira recente, a falta de roteiro.

Amanda (Colin) é uma publicitária de sucesso de São Paulo que precisa fechar uma conta iniciada no Rio de Janeiro. Bruno (Blat) é um carioca cujo pai se encontra em estado crítico em uma UTI em São Paulo. Durante um vôo desviado para Belo Horizonte por conta de mau tempo, os dois se conhecem e fazem sexo casual, mas na troca constante entre as duas cidades, passam a se ver mais e cultivar uma relação. Valores relacionados às diferenças das duas cidades são o mote para o relacionamento dos dois.

Estrutura padrão de roteiro é algo básico e simples. Como em todas as regras, existem as exceções. Não é realmente um problema que um filme não siga o padrão de roteiro comum. O problema é quando o filme quebra as regras sem motivo ou construção. Aí que se encontra o grande erro de Ponte Aérea. A proposta e o conflito são claros, Bruno e Amanda se gostam e querem ficar juntos, mas as diferenças entre as cidades dos dois e a distância dificulta. As diversas discussões entre os valores do Rio e de sampa aparecem em alguns diálogos, como a hilária cena em que Bruno questiona a falta de queijo na pizza de calabresa de São Paulo, mas o foco sai disso rapidamente para os momentos românticos. E fica por isso.

18.05.2014 - Filmagem ' PONTE AEREA ' , de Julia Rezende Foto: Aline ArrudaAmanda cercada pelos tons sóbrios de São Paulo.

O filme resolve rapidamente o problema da distância. Bruno não tem emprego ou vínculos no Rio e passa rapidamente a viver na casa de Amanda em São Paulo. E, simples assim, o filme enrola por uma hora sem conflitos. Desenvolve um pouco o trabalho de Amanda na agência, a relação de Bruno com um meio irmão recém-descoberto, mas a relação entre os dois não arranca. Eles fazem muito sexo e convivem bem por mais da metade da história. Então, próximo ao final, o roteiro comete um pecado. Bruno vira um grande canalha e arruína o romance. A reviravolta sugere que o estilo paulista é superior e que não se deve confiar nos cariocas, quando poderia ser mais equilibrada e revelar as qualidades e defeitos dos dois. Pior do que isso, se o romance nunca convencia que o que havia entre eles era mais do que sexo de qualidade, ao tornar ele um cretino, não tem como torcer para que os dois fiquem juntos novamente.

Júlia Rezende, a diretora e co-roteirista, acerta em todo o resto. As cenas são dirigidas com muita proximidade dos personagens, o que transforma as duas cidades enormes em ambientes íntimos. Quando Bruno e Amanda estão em um cenário fechado, a câmera também está dentro, como uma pessoa que se locomove na área, como um habitante local. O estilo lembra muito o cinema canadense romântico, com destaque para Será Que?. A luz evoca as iluminações artificiais urbanas. A direção de arte brinca com as cores e vida do Rio em contraste com os tons sóbrios de São Paulo.

Still do filme 'Ponte Aérea'Bruno em mundo cheio de cores e descompromissos do Rio de Janeiro.

Letícia Colin é linda, e atua cada vez melhor. É impossível, entretanto, não notar que ela não está completamente na personagem em diversas cenas. Além disso, a diretora Júlia Rezende parece mais interessada em mostrar o corpo dela que algo importante para a trama. Caio Blat nunca está ruim. O ator sempre sabe dar nuances e profundidade para todo o tipo de personagem, mas a antipatia habitual dele continua a incomodar. Os dois têm uma ótima química e convencem como par.

Não fosse o péssimo ritmo, a falta de conflitos e o final tendencioso, Ponte Aérea poderia ser um grande filme que dialoga com um público mais jovem e proeminente. Infelizmente, não deixa de se arrastar e ser apenas chato em grande parte da duração.

 

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