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Monstros

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Monstros foi uma pequena surpresa independente que virou moda nos Estados Unidos em 2010. O motivo é muito semelhante ao do sucesso de O Hospedeiro. Ambos são filmes de monstros gigantes feitos com pouquíssimo dinheiro, computação gráfica realista e uma proposta bem conduzida.

Fotógrafo chega a uma zona de infecção alienígena no México para registrar os eventos locais. Porém, descobre que a filha do chefe está ferida após um acidente e precisa levá-la de volta para os Estados Unidos em segurança. O problema é que o caminho de volta é cruzando a região tomada pelos seres desconhecidos.
Para falar a verdade, Monstros impressiona um pouco mais que seu irmão coreano porque custou menos de um milhão de dólares, sendo que O Hospedeiro gastou uns 10 milhões. A diferença no orçamento se nota com a sutileza do diretor Gareth Edwards na hora de construir seu mundo cheio de criaturas gigantes. Enquanto o foco daquele filme era a paternidade, aqui o foco são as relações humanas durante as catástrofes.
O parabéns para Edwards não se contém apenas a sua direção. Com uma carreira anterior como animador e supervisor de efeitos especiais, ele se arriscou muito ao escrever o roteiro de seu pequeno projeto pessoal. O mais impressionante é como criou um material de qualidade considerando o histórico de outros que tentaram a mudança de carreira na área. Gente como o Patrick Tatopoulos, cujos filmes são a prova de que jamais deveria ter saído do departamento de efeitos especiais.
A experiência técnica serve bem a Edwards. Saber como se fazem essas coisas lhe permitiu escrever cenas que precisariam de computação gráfica sem gastar rios de dinheiro. Ele mesmo foi o operador de câmera acompanhado de mais quatro pessoas na equipe técnica e os dois atores principais. Todo o resto dos atores coadjuvantes eram pessoas que estavam apenas passando pelos locais. Os efeitos especiais foram criados pelo próprio Edwards sozinho em seu computador pessoal. Todas as cenas foram filmadas sem permissão, com a equipe chegando nos locais sem aviso e começando a filmar.

Computação realista e barata. Quase tudo nesse frame é digital.
Computação realista e barata. Quase tudo neste frame é digital.

Cinema de guerrilha carregado de efeitos especiais? Pode apostar que sim. Edwards está listado como diretor, roteirista, diretor de fotografia, operador de câmera, produtor, designer de produção. Os dois protagonistas improvisavam grande parte de seus diálogos ao lado dos atores amadores que cruzavam com as filmagens. Ninguém tinha dinheiro e a equipe era simplesmente enxuta.
Como o título sugere, os alienígenas são monstruosos. O design deles parece uma mistura de artrópode com cefalópode em escala que varia entre 50 e 100 metros. O filme abre com um deles atacando um comboio com filmagens de câmera de mão. Então nunca se vê o bicho direito. Daí em diante, vemos as agruras do fotógrafo Andrew Kaulder e da garota Samantha Wynden para tentar passar pelo terreno alienígena em segurança. Edwards vai pouco a pouco apresentando as características do extraterrestres antes de mostrá-los de verdade. É uma construção cuidadosa que vai garantir que o espectador saiba o que pode esperar nos momentos em que a ação começa.

35038754192339858210Monstros deixados em segredo para aumentar o suspense de suas aparições.

Mas o suspense não é o foco. As desventuras dos dois vai servir para revelar os pequenos momentos em que ambos aprendem mais um sobre o outro e se aproximam. É uma pequena história humana em um mundo caótico. Ainda existem outras analogias maiores como a dificuldade de entrar nos Estados Unidos representada pela enorme linha de fronteira que virou a zona infectada pelos alienígenas.
Quando os monstros de alguma forma se apresentam para os personagens, vem através do suspense puro. Existe uma construção de alguma presença próxima cuja qual é percebida pelos atores em cena junto com o espectador, que acompanha enquanto eles tentam se esconder e sobreviver sem sequer ver os bichos antes deles aparecerem.
O ator principal, Scoot McNairy, é ótimo como o fotógrafo que está no limite entre a falta de escrúpulos e o herói simpático. McNairy é rosto fácil de lembrar depois de vários papéis secundários em filmes como Argo e 12 Anos de Escravidão. Já a atriz, Whitney Able, é dona de uma inexpressividade impressionante. Ela não reage a nada em cena, mesmo quando a personagem está em perigo extremo. Mas a moça é uma graça e agrada apenas com sua beleza.
Se a descrição da obra parece com o tom do Godzilla mais recente, não é sem relação. Após o sucesso de Monstros, Gareth Edwards foi chamado para fazer o filme do rei dos monstros. Na mega produção, acrescentou seu estilo e fez o que foi visto nos cinemas. Muito me agradou. Espero que faça algo de qualidade quando for para o estilo de Star Wars, cujo spin-off está confirmado como diretor. Seja como for, Edwards merece reconhecimento como diretor que sabe contar uma história além do simples domínio técnico.
 
ALLONS-YYYYYYYYY…

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