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Kick-Ass 2

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Kick-Ass foi um dos melhores filmes de 2010. Matthew Vaughn o fez com seu próprio dinheiro. Só depois de pronto e de despertar a atenção do público é que a produção ganhou distribuição. Vaughn pegou a HQ do Mark Millar antes mesmo de ela estar pronta e fez seu conto sobre responsabilidade social, relações paternais e super-heróis no mundo real. A continuação tinha uma tarefa complicada, se manter à altura.

A história continua praticamente de onde o primeiro filme parou. Dave Lizewski volta à vida normal com saudades das emoções de ser o herói Kick-Ass. Em paralelo, Mindy MaCready precisa se adaptar à vida de uma adolescente normal, mesmo não tendo passado por uma infância adequada ao ser a Hit-Girl. Já Chris D’Amico vai perdendo a sanidade para a raiva que sente pela perda de seu pai.

O primeiro Kick-Ass se afastou um pouco da obra original para ser um filme completo. Completo no sentido de não deixar pontas soltas e fazer com que todos os seus temas e ciclos narrativos sejam bem contidos dentro da obra. Para fazer isso, Vaughn terminou-o com Lizewski entendendo porque as pessoas não se arriscam a ser vigilantes e aceitando ser uma pessoa comum.

Mas, seguindo assim, o segundo filme seria inviável. Então Jeff Wadlow, roteirista e diretor da continuação, usa o primeiro ato inteiro para desvirtuar todos os conceitos bem fechados do original. Lizewski tem saudades de ser um herói, sem ter nenhuma lembrança das lições aprendidas no primeiro filme. MaCready precisa ficar sendo lembrada constantemente pelo novo responsável de coisas que ele havia deixado claro no anterior.

Chris D’Amico passa por uma jornada que é lógica depois do que aconteceu no primeiro filme. Mas um personagem novo (John Leguizamo, terrivelmente desperdiçado) é apresentado dentro de seu universo pessoal. Pela familiaridade retratada entre os dois, esse novo personagem tinha que estar presente já no outro filme.

John Leguizamo e Christopher Mintz-Plasse. Desperdício.
John Leguizamo e Christopher Mintz-Plasse. Desperdício.

Wadlow não é nem de longe um diretor tão bom quanto Vaughn. O mundo de Kick-Ass é violento, caricato e exagerado. Vaughn constrói isso com cuidado no primeiro filme. Leva bastante tempo criando a realidade do David adolescente e desenvolve aos poucos para o exagero. Quando chega ao final, não incomoda quando Kick-Ass e Hit-Girl saem voando de foguete.

Mas essa continuação já começa exagerada. Não tem construção da ambientação. Numa hora vemos Dave apanhando para a namorada, na outra ele aprende a lutar, fica forte e sai enfrentando bandidos. Então, no final, ele não consegue derrotar o vilão mais fraco, que não sabe nada sobre defesa pessoal.

Mas nada se compara ao exagero do que a Hit-Girl consegue fazer. Ela é só uma criança que sabe lutar, entende de estratégias militares, e usa armas tal qual um brucutu da década de 1980. É um exagero que funciona dentro de certa proposta niilista. Mas no segundo filme, ela literalmente ganha certos poderes. A luta final dela é tão maluca que qualquer bom momento da ambientação é jogado fora.

O roteiro é bem estruturado em termos dos ciclos dos personagens. Todos eles passam por um conflito específico e bem redondinho. O problema é que a maior parte deles são deturpações de tudo o que foi feito no original ou repetições. Dave vai aos poucos descobrindo coisas que ele já havia descoberto antes. Todos os seus questionamentos já haviam sido respondidos pela jornada do primeiro filme. Com a diferença de que este novo dá respostas contrárias. Ou seja, o filme não apenas apaga o que o primeiro construiu, como ainda inverte o sentido.

Mas o filme acerta quando se foca em Mindy e em Chris. Chloë Moretz cria momentos bonitos de uma garota que não sabe quem realmente é. Ao mesmo tempo em que cresceu repudiando seu lado feminino, não consegue controlar uma súbita atração pelo sexo oposto. O que leva a momentos de sofrimentos e desilusões, como qualquer adolescente. Mas poucos adolescentes são treinados para ser máquinas de matar.

D’Amico também é interessante. Apesar do começo exagerado, ele funciona de forma semelhante ao Coringa de Ledger em Cavaleiro das Trevas. Ele é consequência direta das ações de Dave como super-herói. Seus atos como o super-vilão Motherfucker exaltam destruição e caos e é um perigo constante na trama. Porém, o personagem nunca alcança todo o potencial. Seu plano é matar Kick-Ass e destruir a cidade. Mas quase nunca passa de um risco possível. Apenas em uma parte próxima do fim finalmente faz algum ato de maldade.

A interação de Dave com os dois é boa e dá o próximo passo para o que seu personagem deve se tornar. Mas é outro problema, todos estes ciclos são um degrau. Enquanto o primeiro filme brincava através do humor negro com a ideia de um adolescente tentando combater o crime, este filme leva tudo a sério e se revela como parte da construção do herói que Kick-Ass deve ser em um terceiro filme.

Apesar de se passar logo após os eventos do anterior, Mindy e Dave estão claramente mais velhos. Moretz passou da criança loira para uma garota com corpo já formado e um terço a mais de altura. Mas quem assusta mesmo é o Aaron Taylor-Johnson. Ele não consegue mais se passar por um estudante do ensino médio. A voz está evidentemente mais grossa, a barba está rala e até a postura é mais imponente.

Taylor-Johnson e Moretz caracterizados. Visivelmente mais velhos.
Taylor-Johnson e Moretz caracterizados. Visivelmente mais velhos.

O ator se esforça e precisa mudar a interpretação para a nova mensagem, mas sua idade aparente atrapalha. Já Christopher Mintz-Plasse continua ótimo, apesar de uma necessidade de fazer humor em momentos indevidos, como uma tentativa de estupro. Apenas é mais uma demonstração da incapacidade de Wadlow como diretor.

Destaque para o ótimo Jim Carrey. Seu personagem Coronel Listras e Estrelas é muito interessante. Ele tem o equilíbrio exato entre tragédia e humor. Pena que sua participação é curta. Também gostei da coadjuvante que interpreta a heroína Night Bitch. A desconhecida Lindy Booth tem uma boa presença de tela.

Como filme, Kick-Ass 2 é muito fraco. Principalmente após a qualidade do primeiro filme. Possui diversos bons momentos, grande maioria por conta da Chloë Moretz. Para quem gosta das versões em quadrinhos, porém, este filme é muito mais fiel e deve agradar mais.

 

FANTASTIC…

1 comentário em “Kick-Ass 2

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