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Elysium

Metropolis - Final

Todo ano eu escolho um filme para assistir sem nenhum tipo de informação. O que significa evitar trailers, posters, imagens, notícias e conversas com outras pessoas. Ano passado o filme selecionado foi Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Uma decepção gigantesca. Esperar tanto tempo me esforçando tanto para chegar ao cinema e ver aquela bomba. Felizmente, o filme escolhido para este ano foi Elysium.

O filme se passa em um futuro no qual a superpopulação deixou o planeta em condições inabitáveis. Para manter o conforto, os ricos construíram uma estação espacial que replica as condições da Terra para viver tranquilamente. Um homem chamado Max, que vive no planeta, retém acidentalmente informações que podem mudar essa estrutura.

Diego Luna, Matt Damon e Wagner Moura em cena.
Diego Luna, Matt Damon e Wagner Moura em cena.

Elysium é o segundo filme do Neill Blomkamp. O primeiro, Distrito 9, foi um choque. A forma através da qual o diretor representou a segregação de um grupo de alienígenas presos na África do Sul surpreendeu a todos com sua engenhosidade e sua sensibilidade. Esse é exatamente o maior problema de Elysium. Todo o mundo espera algo parecido. E Elysium realmente é parecido, mas Distrito 9 é tão bom que a expectativa fica alta demais.

Blomkamp possui um estilo bem específico que faz com que suas obras sejam rápidas. Os roteiros possuem diversas histórias paralelas com tantos contextos diferentes complementando os universos apresentados que a montagem é forçada a picotar os takes para apresentar tudo.

Em Distrito 9, ele usou de linguagem de documentário para lidar com essa velocidade acelerada. O que funcionou perfeitamente. Em Elysium não se adequa tão bem. Como o filme assume linguagem cinematográfica, é preciso um pouco mais de ambientação que apenas um plano tremido de um personagem andando por aí.

O roteiro cria muitas histórias paralelas. Temos o protagonista, Max, correndo pra lá e pra cá tentando salvar a própria vida. Além dele, existe o traficante de gente revolucionário, a enfermeira tentando curar o câncer da filha, o vilão psicótico, a vilã corporativista. Em meio a toda essa bagunça, nenhum personagem ganha mais destaque, nem mesmo o principal.

E ter justamente o Matt Damon interpretando um homem pobre de origem latina não ajuda. Damon é um excelente ator e faz o papel o melhor que pode. Mas o personagem não combina com o perfil físico do ator. É difícil acreditar que aquele loiro alto de olhos azuis seja um descendente de latinos em uma Los Angeles miserável.

Não são apenas as tramas paralelas que são excessivas, mas os contextos científicos também. É a estação espacial, é a cura absoluta desenvolvida para os ricos, é o exoesqueleto que Max usa o filme inteiro, é a capacidade de usar o cérebro como hard drive. Todos são complexos e confusos e requerem também uma explicação.

Mas Blomkamp faz isso muito bem. Principalmente a parte da cura. No começo coloca uma sequência longa com um grupo de pessoas tentando entrar na estação de forma ilegal. Acompanhamos uma mãe e sua filha com problemas de desenvolvimento ósseo. Toda a tensão de sair da Terra, entrar na estação sem ser abatidos e conseguir usar a cura na criança é incrível. De tão boa, essa sequência seria um curta metragem sensacional. No filme, ela ainda serve de cena explicativa para a vilã.

Migração espacial. Todo mundo quer chegar naquele arco ali no horizonte.
Todo mundo quer chegar naquele arco ali no horizonte.

Não entenda errado. São muitos contextos diferentes somados a tantas histórias paralelas. Mas o roteiro é muito bem estruturado. Tudo é bem apresentado e serve para chegar ao conflito final. O problema aqui é a direção. Blomkamp não tem muita noção de ritmo. O filme final tem uma hora e quarenta minutos. Poderia ter expandido mais sua duração em prol de uma ambientação mais bem realizada.

Porém, este é o único problema de Blomkamp como diretor. Mesmo super acelerado e sem muito tempo de ambientação, ele ainda consegue criar cenas críveis e faz acreditar naquela realidade. Faz isso através de bons enquadramentos, somados a uma direção de arte inteligentíssima e efeitos especiais maravilhosos.

Ele coloca imagens de prédios expandidos através de seus andares para caber mais pessoas, favelas do tamanho de mega cidades, mega-prédios semelhantes aos apresentados em Dredd. Apesar da velocidade com que esses takes passam, eles apresentam tudo maravilhosamente.

A tecnologia é extremamente avançada em relação aos tempos atuais, mas parece real graças à forma como a direção de arte a constrói. Os robôs e engrenagens são cheios de rebites e partes que existem atualmente. Faz com que tudo pareça possível.

Destaque para a estação espacial. Elysium parece um gigantesco condomínio residencial. Mas sua construção é claramente inspirada no jogo Halo, cuja adaptação para o cinema quase foi realizada por Blomkamp.

Somado a tudo isso, os efeitos especiais criam movimentos realistas. Acredite, é bem provável que você nunca tenha visto robôs se movendo de forma tão natural. Não parece um ser criado por qualquer tipo de efeito que seja.

Mas o grande brilho de Elysium reside em sua profundidade. Blomkamp faz mais uma crítica social através de analogias políticas e sociológicas. Existe uma tendência para crítica aos sistemas de saúde. Mas também para um contexto socialista.

Mesmo com a reflexão interessante, a mensagem socialista fica pedante. A solução final proposta pelos personagens é um tanto ridícula por ser claramente insustentável. O filme termina literalmente deixando aquela sociedade caindo no caos. O que, eu acredito, seja melhor que o socialismo. Mesmo que defeituoso, só por criar esse tipo de raciocínio já é mais válido que muita porcaria que vemos por aí.

Com exceção do Matt Damon deslocado, todos os outros atores funcionam muito bem em seus papéis. Inclusive a Alice Braga, o Diego Luna e o Wagner Moura, que ganham papéis com mais destaque do que eu imaginava a princípio. Mas o filme pertence a um ator, Sharlto Copley. Ele entra em cena e rouba toda e qualquer atenção com seu vilão. É assustador.

Sharlto Copley. O filme é dele.
Sharlto Copley. O filme é dele.

Por mais que Elysium seja bom, não vá esperando Distrito 9. São obras diferentes, apesar das várias semelhanças.

 

FANTASTIC…

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