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Nona: Se me Molham, Eu os Queimo (Nona. Si me mojan, yo los quemo – 2019)

Um clichê em comentários sobre cultura e arte é a expressão “Não é para todo mundo”. Certamente, seria uma frase fácil de dizer sobre este Nona: Se me Molham, Eu os Queimo. Entre os pouco menos de 90 minutos de duração, a diretora Camila José Danoso mistura imagens reais do convívio com a própria avó, e cenas fictícias estreladas… Também pela avó, que não é uma atriz profissional.

Nesse tom meio documental, meio ficção, o espectador acompanha a fuga de Josefina Ramírez (nome real da avó, apelidada de Nona) da capital do Chile para a cidade costeira Pichilemu. A progenitora precisa se distanciar porque ateou fogo em um veículo com um coquetel molotov.

Da mesma forma que a sinopse não revela muito sobre os temas principais da produção de Camila, o filme não se propõe a explicar. Mas não é preciso ir longe na história da produção de cinema latina das últimas décadas para compreender algumas das perspectivas. Especialmente quando Nona comenta, em certo ponto, como participou da luta contra o regime ditatorial de Pinochet no país.

Incêndios nem tão misteriosos

Nona era especialista na produção de molotovs, e a idade avançada somada ao tédio da vida de interior e à empolgação do ataque ao veículo despertam nela uma vontade que dará continuidade à trama. Aos poucos, casas de várias pessoas começam a sofrer incêndios em Pichilemu. Nas redondezas da residência de Nona, ela é uma das poucas que não passou pela tragédia.

Poderia ser um suspense, ou um mistério policial. Mas Camila não está interessada em nenhuma dessas coisas. Apesar de algumas cenas de investigação e movimentação atrás do culpado, nunca é dito se Nona é a autora dos incêndios. Isso porque a diretora mostra os resultados das queimadas quase como um pano de fundo com pouca importância.

O que Camila mostra, de verdade, é a rotina lenta e tediosa de Nona na cidade. Às vezes com uma imagem de um vídeo antigo gravado com a matriarca, às vezes com uma filmagem de uma conversa fictícia com vizinhos. A principal diferença fica no formato das imagens. Uma vez que a idosa segue a tendência de pessoas da idade que gostam de encontrar conhecidos e desconhecidos apenas para conversar.

Entre dois Chiles

É assim que a Nona fictícia e a real se confundem. Uma tem passado de piromaníaca em um contexto político, a outra ainda o vive. O que mudou foi a situação política. De um país autoritário do passado, para um atual que ainda tem revoltas contra as diferenças sociais. Essa idosa solitária e entediada no interior é uma reflexão sobre como os dois Chiles se encontram.

O resultado é uma estética incomum e interessante, mas um tanto quanto arrastada. Especialmente porque Camila quer que o tédio da progenitora seja representado pela forma como filma e monta a produção. Ela segue as longas caminhadas de Nona, os longos silêncios contempladores, e as longas conversas que falam pouco sobre o que acontece na trama.

Desafiador, difícil e divisor. Exatamente o tipo que mais é usado naquele clichê incorreto, “não é para todo mundo”. Da mesma forma que a vida de Nona trará dificuldades particulares para grande parte da audiência com estilos mais comerciais. Esses grandes filmes podem ser intragáveis para quem apenas procura uma história ou uma estética diferente. A verdade é que nada é para todo mundo, mas Nona tem algo a ser dito para todos.

Nona: Se me Molham, Eu os Queimo

Prós

  • Mistura entre real e ficção cria estética diferente e incomum
  • Diretora apresenta estilo único para fazer uma proposta desafiadora

Contras

  • Parte do que a diretora pretende é entediar
  • Muito da reflexão política não é fácil de entender

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