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A Grande Muralha (The Great Wall – 2016)

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Nada melhor que ir assistir um filme idealizado por um produtor inteligente, escrito por grandes roteiristas, com um ótimo ator e nas mãos de um diretor com visão única, certo? Talvez não, se todos esses artistas estiverem envolvidos em coisas com as quais nunca trabalharam antes. O que praticamente gera um filme de exceção nas carreiras de todos eles.

Certamente a história dos guerreiros William (Matt Damon) e Tovar (Pedro Pascal) é diferente de várias coisas que podem ser procuradas em outros filmes. Em busca do segredo da pólvora na idade das trevas, os dois são capturados pelo exército chinês, que protege o país na grande muralha que o contorna. Eles lutam contra um exército de monstros que ataca a China a cada 60 anos. Nessa luta, William será forçado a se questionar sobre os próprios valores.

Há um potencial para algo que funciona de forma única aqui. Um grande épico de ação cujo propósito é apenas divertir com batalhas maiores que a vida, efeitos especiais que criam visuais fantásticos e até alguma profundidade. Ainda mais com a ideia de reinventar a origem de um dos ícones do planeta em uma cultura rica e com um conflito interessante.

Era o plano do diretor e produtor Edward Zwick quando ele teve a ideia para a produção. Então Tony Gilroy (escritor de grandes obras, como a trilogia Bourne) entrou para fazer o roteiro. Mas os dois dividem o crédito do texto com outros quatro realizadores, o que parece fazer com que os problemas de estrutura do filme apareçam.

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Protagonistas em direção à ação. Fantasia feita para ser divertida.

Entre as várias histórias paralelas e os diversos conflitos, o filme começa a se dividir em tramas que não levam a lugar nenhum. Principalmente com Tovar. Aos poucos ele sobra na produção, porque ele não tem valores que se transformam no decorrer do roteiro. O que incomoda ainda mais quando é óbvio que ele não precisava existir. Ele provavelmente era a ideia de um dos roteiristas que foi abandonada por outro e virou uma ponta solta nas mãos de um terceiro.

Se é um problema apenas por isso, ele aumenta quando se percebe que A Grande Muralha é feito só para ser um espetáculo de efeitos especiais, porque não é necessário tentar elaborar tanto as tramas paralelas. Ainda mais quando toda a profundidade se encontra na jornada de William. Com tanto espaço para coisas que não acrescentam, o desenvolvimento do personagem se resume a diálogos expositivos. Especialmente quando ele discute os valores pessoais com a Comandante Lin (Tian Jing). Os dois falam clichês que não soam naturais, como “Nós não somos iguais”.

Com o foco em ação, efeitos especiais e diversão, o filme também fica capenga. O diretor chinês Zhang Yimou (dos maravilhosos Herói e Clã das Adagas Voadoras) coloca o estilo visual para criar grandes imagens lindas que enchem a tela constantemente. Mistura a direção de arte colorida em armaduras azuis, vermelhas, amarelas e pretas com monstros verdes e a elegância da fantasia de artes marciais do país.

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Comandante Lin. Personagem rouba o filme.

Mas a ação fica dividida. Em parte, é possível entender o que ocorre e sentir medo com personagens individuais em meio a uma batalha, como em uma ótima cena na qual William e Tovar salvam um inexperiente soldado chinês de um monstrengo. Por outro lado, quando a escala fica grandiosa, as tomadas não parecem se encaixar. Especialmente com a noção espacial. Yimou não faz questão de estipular lados da muralha que representam a China e que representam as terras dos monstros. Em certos momentos, há a impressão até de que eles atacam dos dois lados.

O Matt Damon e o Pedro Pascal, apesar de serem os heróis do filme, são o elo fraco da corrente dos atores da produção. Desacostumados com estilos de produções chinesas, os personagens dos dois não soam como parte do universo. Chega até a parecer que eles atuam como se zombassem da fantasia que os cerca. O destaque total fica com Tian Jing, uma chinesa que atua além da beleza e revela muita força na crença que a personagem tem nas razões pelas quais luta.

A Grande Muralha consegue distrair até o final, mas é tão problemático que impede que as boas cenas de ação saíam com saldo positivo depois da sessão. Nem mesmo com a união de grandes realizadores como Edward Zwick, Tony Gilroy, Matt Damon e, acima de todos, Zhang Yimou.

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