Adorei Corrida Contra o Destino, mas odiei o tema e a mensagem. Ao contrário de muitos dos meus colegas e amigos, não sou fã de contracultura. Pelo menos não a contracultura que se iniciou nas décadas de 1950 e 1960. Compreendo a importância e concordo com a relevância. Sem ela não teríamos liberdade de expressão tal qual temos hoje. Não haveria expressão nem liberdade sexual. O mundo seria conservador demais e um pouco pior. Mas mesmo essa contracultura salvadora tem seus defeitos.
Corrida Contra o Destino é um filme enganador. Conta a história de um homem que precisa cruzar quatro estados dos Estados Unidos em menos de dois dias em um Dodge Challenger R/T 1970. No meio do caminho ele enfrenta de tudo. Polícia, caroneiros, obras, desafios de racha. Ou seja, parece um suspense ou um filme de ação. De certa forma é, mas não é essa a proposta.
Kowalski não tem um motivo real para estar fazendo o que faz. O prazo para a entrega do carro é maior do que o que ele estipulou para si mesmo. Não tem nenhum problema ou garota que o motivem. Ele apenas quer estar em Frisco às três da tarde do domingo. Para isso ele cheira cocaína, toma metanfetamina e dirige sem parar acima do limite de velocidade.
É aí que entra a mensagem de contracultura. Kowalski tira racha contra um homem num Jaguar só pela diversão, usa drogas a torto e a direito, enfrenta as autoridades, aceita toda e qualquer expressão sexual com a qual cruza.
O resultado é muita nudez, um tanto de maniqueísmo, rock n’ roll e um filme muito bem dirigido. Richard C. Sarafian cria simbolismos visuais para todos os lados. Os policiais são retratados como burros perdidos no tradicionalismo caipira. A fotografia cria ambientes majestosos no que é um Estados Unidos livre. O final usa luz para representar a jornada do personagem.
Flashbacks são usados para mostrar o passado de Kowalski e como ele chegou até ali. Mostra que policiais de boa índole não tem lugar entre as autoridades perversas, que corridas são deturpadas pelas regras e competitividade e que a estrada é a verdadeira jornada livre.
Por incrível que pareça, Corrida Contra o Destino é inspirado em fatos reais. Pelo que pesquisei, é bem fiel ao que aconteceu de verdade, incluindo o desfecho.
É um pouco lento para o padrão atual, mas pode-se ver pela montagem que faz parte da reinvenção de Hollywood do período.
Ao final fica o simbolismo. Kowalski ultrapassa o plano material e acende a uma existência superior, onde todos somos livres de todas as nossas amarras. É uma jornada que merece ser acompanhada, mas com a qual não concordo plenamente.
Muito superior ao Na Estrada, que deveria ter os mesmo valores, mas foi deturpado pela megalomania do Walter Salles.
P.S.: Ri ao descobrir de onde veio a música de abertura do Globo Repórter.
GERÔNIMOOOOOOOO…